A EQUIPE DE ENFERMAGEM E O ATENDIMENTO ÀS EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

A EQUIPE DE ENFERMAGEM E O ATENDIMENTO ÀS EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THE NURSING TEAM AND CARE FOR PSYCHIATRIC EMERGENCIES: AN INTEGRATIVE REVIEW

EL EQUIPO DE ENFERMERÍA Y LA ATENCIÓN A LAS URGENCIAS PSIQUIÁTRICAS: UNA REVISIÓN INTEGRATIVA

AUTORES:

Nathália dos Santos - Graduanda em Enfermagem. Fundação Educacional do Município de Assis. Assis (SP). ORCID: 0009-0004-4164-0300. 

Caroline Lourenço de Almeida - Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Fundação Educacional do Município de Assis. Assis (SP). ORCID: 0000-0002-6043-9301. 

Rosângela Gonçalves da Silva - Enfermeira. Doutora em Biotecnologia. Fundação Educacional do Município de Assis. Assis (SP). ORCID: 0000-0002-3223-750X. 

Talita Domingues Caldeirão - Enfermeira. Doutora em Tocoginecologia. Fundação Educacional do Município de Assis. Assis (SP). ORCID: 0000-0002-8608-5417.

Patrícia Coelho Mendes de Britto Haddad - Enfermeira. Mestre em Saúde e Envelhecimento. Fundação Educacional do Município de Assis. Assis (SP). ORCID: 0000-0002-3155-4239, Telefone: (18) 99722 3792. 

Daniel Augusto da Silva - Enfermeiro. Pós Doutor em Ciências. Fundação Educacional do Município de Assis. Assis (SP).ORCID: 0000-0002-2716-6700. 

RESUMO

Objetivo: Analisar o atendimento da equipe de enfermagem nas emergências psiquiátricas. Método: Estudo de revisão integrativa da literatura, considerando como estratégia PICo: (P) Equipe de enfermagem, (I) Atendimento, (Co) Emergências psiquiátricas, os critérios de inclusão são artigos publicados em português, entre 2013 e 2023, disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde. Resultados: Foi elaborado uma tabela para coleta dos dados. Emergiram três categorias: Fragilidades no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas; Fortalezas no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas; Educação continuada e permanente como recurso de melhoria da qualidade no atendimento às emergências psiquiátricas. Considerações finais: É evidente a necessidade de ações de educação continuada, a importância dos recursos humanos e físicos adequados para assistência, capacitações profissionais que contemplem a atenção à saúde mental, promoção da desconstrução social, dos estigmas e estereótipos vinculados à loucura e à figura do doente mental.

DESCRITORES: Enfermagem Psiquiátrica; Enfermagem; Equipe de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem.

ABSTRACT

Objective: To analyze the care provided by the nursing team in psychiatric emergencies. Method: Integrative literature review study, considering the PICo strategy: (P) Nursing team, (I) Care, (Co) Psychiatric emergencies, the inclusion criteria are articles published in Portuguese, between 2013 and 2023, available in the Library Virtual Health. Results: A table was created to collect data. Three categories emerged: Weaknesses in nursing care for psychiatric emergencies; Strengths in nursing care for psychiatric emergencies; Continuing and permanent education as a resource for improving the quality of care for psychiatric emergencies. Final considerations: The need for continuing education actions is evident, the importance of adequate human and physical resources for assistance, professional training that includes mental health care, promotion of social deconstruction, stigmas and stereotypes linked to madness and the figure of brain sick.

DESCRIPTORS: Psychiatric Nursing; Nursing; Nursing, Team; Nursing Care.

RESUMEN

Objetivo: Analizar la atención brindada por el equipo de enfermería en emergencias psiquiátricas. Método: Estudio de revisión integradora de la literatura, considerando la estrategia PICo: (P) Equipo de enfermería, (I) Atención, (Co) Emergencias psiquiátricas, los criterios de inclusión son artículos publicados en portugués, entre 2013 y 2023, disponibles en la Biblioteca Virtual de Salud. Resultados: Se creó una tabla para recolectar datos. Surgieron tres categorías: Debilidades en la atención de enfermería en emergencias psiquiátricas; Fortalezas en la atención de enfermería para emergencias psiquiátricas; La educación continua y permanente como recurso para mejorar la calidad de la atención de las urgencias psiquiátricas. Considerações finais: É evidente a necessidade de ações de educação continuada, a importância dos recursos humanos e físicos adequados para assistência, capacitações profissionais que contemplem a atenção à saúde mental, promoção da desconstrução social, dos estigmas e estereótipos vinculados à loucura e à figura do enfermo mental.

DESCRIPTORES: Enfermería Psiquiátrica; Enfermeria; Grupo de Enfermería; Atención de Enfermería.

Recebido: 28/11/2023 Aprovado: 28/12/2023

Tipo de artigo: Revisão Integrativa

INTRODUÇÃO

No contexto geral os transtornos mentais demonstram indicadores de baixa mortalidade, entretanto desempenham relevante impacto em questões de taxa de morbidade. Entre os transtornos mentais encontra-se a psicose que engloba uma síndrome neurológica em que algumas partes do encéfalo não possuem a funcionabilidade de acordo com o que seria ideal, mantendo às funções orgânicas de um organismo (1).

O surto psicótico é uma situação complexa, desde o momento da avaliação inicial há variedades na investigação dos quadros que podem acarretar a conclusão de um diagnóstico efetivo que pode ocorrer acompanhado de uma fase prodrômica definida por sinais e sintomas que precedem as manifestações típicas. A expressão psicose se caracteriza constantemente pela presença de alucinações, incluindo desorganização de pensamento, delírios, alteração importante de psicomotricidade e prejuízo de funcionamento (2).

Portanto a psicose abrange uma vasta gama de doenças psíquicas, sendo a esquizofrenia a mais importante delas, consiste em uma patologia que lesiona a funcionalidade do indivíduo em distinguir as experiências vivenciadas, podendo ocasionar a incapacidade de pensamento lógico e racional (3).

A realização do diagnóstico de um indivíduo que obtém o episódio de surto psicótico envolve diversos enfoques, entre eles os mecanismos psicológicos, ambientais ou biológicos, que podem ser evidenciados durante a emergência psiquiátrica, que tem importantes implicações terapêuticas seguidas da busca de um prognóstico satisfatório (4).  

Entretanto é primordial entender que na emergência não é imprescindível que se determine a etiologia do surto psicótico de primeiro momento, principalmente se o paciente estiver agitado ou agressivo, pois o paciente em período de surto está com capacidade de controlar suas manifestações limitadas, contudo o enfoque inicial é manter a segurança da equipe, do paciente e promover ações que estabilizem cenário naquele momento (3,4).

A equipe de enfermagem desencadeia relevância fundamental na compreensão dos cuidados ao cliente frente ao surto psicótico. Para que ocorra uma assistência qualificada a equipe tem obrigação ética é legal de questionar-se sobre as circunstâncias no momento do atendimento e delimitar estratégias de cuidado (5).

A execução de uma abordagem adequada no processo das emergências psiquiátricas tem papel significativo na aceitação e a adesão do cliente ao tratamento, esse contato deve seguir alguns critérios como acolhimento integral ao cliente; promoção de escuta qualificada; enfoque no sentimento da pessoa; manter um tom de voz equilibrado sem alterações; manter observação contínua, orientar a família quanto à necessidade de possível contenção; orientar a família a procurar atendimento em saúde mental pós alta para dar continuidade ao tratamento (6).

Portanto considerando de uma forma geral o que foi exposto, o objetivo deste estudo é analisar o atendimento prestado pela equipe de enfermagem durante as emergências psiquiátricas.

MÉTODO

Tipo do estudo

Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, que permite sintetizar o conhecimento a respeito de um determinado tema por meio da análise de conceitos, da revisão de teorias e da agregação de evidências, de modo que oportuniza o reconhecimento da necessidade de novos estudos para preencher lacunas.

A revisão integrativa segue as seguintes etapas: 1) definição da pergunta norteadora; 2) definição de parâmetros para inclusão e exclusão dos artigos; 3) definição dos descritores, busca de artigos e coleta dos dados; 4) leitura e análise dos artigos e discussão dos dados coletados; e 5) exposição do conhecimento gerado (7).

Seleção dos artigos

Ocorreu no segundo trimestre de 2023, norteada pela questão: Quais são os conhecimentos e habilidades da equipe de enfermagem durante o atendimento as emergências psiquiátricas. Foi considerada a estratégia PICo: (P) Equipe de Enfermagem, (I) Atendimento, (Co) Emergências Psiquiátricas.

Os critérios de inclusão compreenderam: artigos publicados em português, entre os anos 2013 e 2023 disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde, que disponibiliza acesso as bases de dados: Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), IBECS (Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde), Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de Dados de Enfermagem). Os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) utilizados foram: (Emergência psiquiátrica; Enfermagem que foram combinados empregando o operador booleano AND.

Foram excluídos os artigos que não expunham a temática em questão, publicações referentes a teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, resumos em anais de eventos, artigos de revisão de literatura e de opiniões.

A Figura 1 apresenta o fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos. Ao final foram selecionados dez artigos para compor estar revisão.

Figura 1. Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos. Assis, SP, 2023.

Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada por meio da análise de conteúdo temática. Na etapa de pré análise, a leitura flutuante dos artigos selecionados permitiu identificar os elementos principais e as categorias para análise. Em seguida realizou-se a codificação, a classificação e a agregação dos dados por meio dos artigos foram explorados. Por final, a terceira etapa compreende o tratamento dos resultados por meio da inferência e da interpretação (8)

As categorias definidas foram: Fortalezas no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas; Fragilidades no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas; Educação continuada e permanente como recurso de melhoria da qualidade no atendimento às emergências psiquiátricas.

RESULTADOS

Foi elaborada uma tabela para exposição dos resultados obtidos por meio da análise dos artigos selecionados. Essa tabela contém a citação do artigo selecionado, o método, a amostra e o local do estudo, as fortalezas no atendimento, as fragilidades no atendimento e as ações de educação continuada e permanente no atendimento às emergências psiquiátricas (Tabela 1).

Tabela 1. Apresentação da síntese de artigos incluídos na revisão integrativa. Assis, SP, Brasil, 2023.

Autores/Ano

Método

Amostra

e local

Fortalezas no atendimento

Fragilidades no atendimento

Necessidades de educação continuada e permanente

REFOSCO,  et al., 2021 (9).

Estudo descritivo, de abordagem qualitativa. 

-  11 participantes, uma enfermeira e dez técnicos de enfermagem.


- 5 do sexo masculino e cinco do sexo feminino.


- Entre 23 e 49 anos de idade.



- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Falta de estrutura.


-  Ausência de profissionais capacitados para lidar com paciente em surto.


- Falta de unidades especializadas para continuidade no tratamento.

- Capacitação para atuar em emergências psiquiátricas.  


- Comunicação adequada. 


- Agilidade dos serviços especializados na aceitação do paciente para não gerar sobrecarga do serviço de emergência.

PEREIRA; DUARTE; ESLABÃO, 2019 (10).

Estudo descritivo e exploratório com abordagem qualitativa.

- Foram entrevistados 42 enfermeiros, dois profissionais de cada turno.


- Realizado em uma sala de emergência de um hospital de Porto Alegre no Rio Grande do Sul.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Superlotação.


- Falta de preparo da equipe.


- Equipes

especializada em saúde mental, principalmente em momentos de crise.


- Falta de estrutura física e recursos materiais.

- Implementação de fluxograma de atendimento durante a assistência.


- Capacitação para a equipe.

BURIOLA et al., 2017 (11).

- Estudo de caso, com Avaliação de 

Quarta Geração, de abordagem hermenêutica-dialética e construtivista.

- Entrevistados 15 participantes da equipe de saúde da emergência Psiquiátrica.


- Realizado na psiquiátrica de um Hospital Geral, no período de fevereiro a junho de 2014.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Falta de funcionários.


- Procura intensa dos serviços de urgência e emergências durante o surto, devido as unidades especializadas não prolongarem o tratamento adequadamente.


- Falta de estrutura para receber crianças com ordens judiciais para internação compulsória.

- Estabelecer normas éticas vigentes nas políticas públicas de saúde, que exige novas formas de estruturar e transitar entre os serviços.

VARGAS et al., 2017 (12).

- Estudo transversal.

- O estudo foi realizado com 184 enfermeiros, em 17 serviços de atendimento de urgências e emergências psiquiátricas, no estado de São Paulo

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Os estigmas e estereótipos em relação aos pacientes portadores de transtorno mental.

- Estratégias de educação e atualização na área de saúde mental e psiquiatria.

LOPES; TOLEDO, 2020 (13).

- Estudo qualitativo descritivo.

- Realizado com 13 enfermeiros em uma unidade de emergência.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

-  Falta de conhecimento e experiências.


- Medo

e intimidação durante a assistência.


- Ambiente desfavorável para acolher o paciente agitado e agressivo.

Estabelecer planos, realizar ações de educação permanente em que se estabeleça vínculo e obtenha a confiança

necessária para manejar essas situações.

CARRIJO et al, 2020 (14).

- Estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa,

- Utilizados fichas de atendimento de pacientes de ambos os sexos, atendidas no setor de emergência de um hospital público localizado no Vale do Araguaia, Brasil, no período de 12 meses.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Falta de encaminhamento para outros serviços de saúde.


- Orientação para continuar ou iniciar um acompanhamento.



- Ações que melhorem a formação dos profissionais.


- Estabelecer um fluxo para os devidos encaminhamentos no município.

SABEH et al, 2023 (15).

- Estudo qualitativo, com recorte exploratório.

- Abordados 22 enfermeiros de ambos os sexos, que integram o quadro de servidores de uma UPAM no município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Desconforto e os sentimentos negativos dos profissionais em relação ao paciente psíquico.


- Falta preparo, de protocolo e rotina no atendimento.


-  Contenções físicas, química e mecânicas inadequadas, sem conhecimento técnico e com materiais inadequados.

- Importância do conhecimento teórico e prático.


-  Habilidades de comunicação e atitude de respeito para com o paciente de saúde mental.



FERNANDES et al., 2016 (16).

- Estudo qualitativo.

- Entrevista com 12 enfermeiros, dez do sexo feminino e dois do sexo masculino, da urgência de um hospital geral do município de Grande Porte do Piauí, em 2014.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- Falta de protocolo ou abordagem padrão para o atendimento ao paciente psiquiátrico.


- Falta de estrutura física e de funcionários.


- Assistência negligenciada.

- Promover meios que possam atualizar e treinar seus profissionais para adquirirem conhecimentos em relação ao paciente psiquiátrico

ELIAS; TAVARES; CORTEZ, 2013 (17).

- Estudo exploratório, de abordagem qualitativa.

- Em um serviço de emergência de um hospital geral na cidade do Rio de Janeiro.

- O artigo não contém informações pertinentes em relação a este tópico.

- A diferença na assistência prestada pelo enfermeiro ao paciente psiquiátrico e não psiquiátrico, na mesma condição clínica.

- Elaborar material educativo que ajude a subsidiar as ações dos programas existentes de educação permanente no município.

DISCUSSÃO

Este estudo teve por objetivo analisar o atendimento prestado pela equipe de enfermagem nas emergências psiquiátricas. A discussão será apresentada conforme os temas propostos na análise de conteúdo temática: Fragilidades no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas; Fortalezas no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas; Educação continuada e permanente como recurso de melhoria da qualidade no atendimento às emergências psiquiátricas. 

Fragilidades no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas

A forma de assistência atual se vincula com a reestruturação em saúde mental, com a Reforma Psiquiátrica Brasileira e o fim no modelo manicomial. O fechamento gradual de manicômios e hospícios dá lugar a uma assistência desinstitucionalizada e a criação da rede extra-hospitalar. A lei que promoveu a reforma, tem como diretriz principal a internação do paciente somente em casos em que o tratamento extra hospitalar se mostrar ineficaz (18).

Neste estudo foi possível identificar fragilidades da equipe de enfermagem no atendimento durante emergências psiquiátricas e muitos dos manejos assistenciais estão correlacionados com práticas utilizadas em manicômios onde ocorreu a institucionalização e sofrimento psíquico.

Estudos evidenciam diversas fragilidades durante o atendimento da equipe de enfermagem nas emergências psiquiátricas. A falta de estrutura e de recursos materiais e humanos nos serviços de emergências são intensas. Cita também o despreparo técnico, a ausência de protocolos e a superlotação em Prontos Socorros e Unidades de Pronto Atendimento. 

A estrutura é desafiadora, pois na maioria das vezes o âmbito é inadequado para o atendimento, não há nenhum tipo e privacidade entre os pacientes. Em salas de emergência, a estrutura física apresenta pouco espaço para comportar uma vasta gama de pacientes com características distintas de saúde mental. 

Muitas vezes é necessário o atendimento ao paciente em surto na mesma instalação a pacientes com outras condições clínicas, o que gera medo intenso entre os pacientes, além de expor os mesmos a risco de agressão. 

Na escassez de recursos materiais destaca-se a dificuldade para conter o paciente em surto, e muitas vezes os próprios profissionais se machucam na tentativa de estabilizar o usuário, além de presença de materiais inadequados para realizar a contenção de forma correta sem danos maiores ao paciente (19).

Aos recursos humanos prevalece a necessidade de uma demanda maior de funcionários na unidade a fim de diminuir a sobrecarga. Ainda, nota-se a importância de um terapeuta ocupacional no serviço de emergência, mesmo que no local as internações sejam de curto período, esse profissional poderia ajudar na abordagem Inicial e aceitação do tratamento pelos pacientes. Além disso, a ausência do serviço social também é notada como elemento dificultador do atendimento de enfermagem; os profissionais se veem resolvendo situações que competem a essa classe (3,11).

Outro ponto a ser destacado é que, além da escassez de recursos humanos, os que estão disponíveis, não se sentem capazes para lidar com pacientes em surto. A equipe de enfermagem relata despreparo, falta de conhecimentos, de habilidades e insegurança no momento do atendimento. Relatam ter dificuldade na comunicação, elemento essencial para o atendimento a qualquer pessoa (5,20)

Há escassez nos protocolos e rotinas, situação que dificulta a segurança e uniformidade de conduta da equipe. Os profissionais muitas vezes apresentam receios ao ofertar assistência a esses pacientes justamente por não estarem devidamente aptos para lidar com a situação (21-22)

Destaca-se também como ponto de fragilidade os sentimentos negativos durante a assistência, e os estigmas e estereótipos em relação aos pacientes portadores de transtorno mental. 

A assistência a pacientes com crise nervosa ou ansiedade são vistos como pacientes com “frescura”; pacientes em crises conversivas evidentes são submetidos a diversos estímulos dolorosos na região do esterno, mesmo sabendo que não é uma prática saudável e resolutiva (23).

A própria equipe de enfermagem cria barreiras em relação ao paciente com transtorno mental. Os que deveriam desfazer falsos conceitos, acabam reforçando o processo de estigmatização das pessoas em surto. Vale ressaltar que este preconceito vai além da equipe de enfermagem, é algo que envolve toda uma sociedade. Muitas vezes existe a diferença na assistência prestada pelo enfermeiro ao paciente psiquiátrico e não psiquiátrico, na mesma condição clínica (23).

O atendimento a pessoa com transtorno mental sofre interferência significativa do humor dos prestadores de serviços, e vice-versa. Existe um desejo por não atender essas pessoas. Medo, impaciência e indiferença são alguns dos sintomas presentes, circunstâncias que dificultam o plano terapêutico eficaz (22).

Ainda, é importante a abordagem sobre os manejos envolvendo as contenções físicas, química e mecânicas inadequadas, sem conhecimento técnico e com materiais inapropriados. 

As contenções são realizadas de forma indiscriminada, sem observar o rigor técnico e científico desta ação, e, ainda, com materiais não adequados, improvisando com ataduras, algodão ortopédico, fraldas ou lençóis. Contenção química e física são associadas e mantidas por tempo não controlado; a negligência ao ofertar cuidados de higiene e alimentar são reais e cruéis (24-26).

Outro ponto enfatizado como fragilidade é a falta de unidades especializadas para continuidade no tratamento, o que gera superlotação e sobrecarrega os serviços de emergências. O paciente em surto chega até a unidade, é submetido a ações que visem estabilizá-lo, após, aguarda vaga para internação para continuidade ao tratamento, na grande maioria das vezes este período de aguardar vaga é extenso, fato que culmina em evasões constantes (27-29).

Fortalezas no atendimento de enfermagem às emergências psiquiátricas

As fortalezas no atendimento referentes ao processo assistencial ao paciente em surto é algo extremamente relevante, entretanto durante buscas por artigos referentes a este quesito não foi possível encontrar estudos que abordassem e debatessem em relação a isso.  

Porém o que ficou evidente em absolutamente todos os artigos analisados foi a certeza que algo precisa ser feito para melhorar a assistência prestada e qualidade de vida do paciente com transtorno mental.

Educação continuada e permanente como recurso de melhoria da qualidade no atendimento às emergências psiquiátricas

Ações focadas em melhorar a qualidade assistencial são extremamente necessárias. O paciente em uma emergência psiquiátrica precisa ser assistido de forma ideal e, estabelecer ações que reestruturem a vida psíquica e social deste indivíduo se faz necessário, englobando ações como capacitação da equipe de enfermagem e implementação de protocolos durante assistência as emergências psiquiátricas. 

A abordagem inicial ao paciente com transtorno mental deve ser acolhedora, a comunicação verbal é possível quando o paciente não perdeu o controle, se esta intervenção se tornar ineficaz é importante que a equipe de enfermagem esteja capacitada para realizar contenções sejam físicas ou mecânicas de forma qualificada, o paciente precisa ser atendido de forma a manter sua integralidade, a assistência precisa ocorrer de forma humanizada. Estabelecer o fluxo para o atendimento durante momento do surto é imprescindível, pois se cria um processo assistencial que será seguido por toda equipe (30-32).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a reforma psiquiátrica surge um novo modelo assistencial, incluindo o fim da desinstitucionalização e visando a promoção do valor social e a autonomia da pessoa com transtorno mental em sua totalidade. Com o presente estudo foi possível evidenciar que atualmente embora tenha ocorrido o fim do modelo manicomial tanto os profissionais quanto as unidades que atuam nas emergências psiquiátricas não estão preparados adequadamente para lidar com paciente em surto, os serviços são inconstantes, hora possuem menor demanda, em outros momentos turbulência no serviço, é uma assistência imprevisível, logo, fica claro a necessidade da oferta de um atendimento seguro e eficaz tanto para o paciente quanto para equipe.

Outro ponto crucial é a necessidade de promover uma desconstrução social dos estigmas e estereótipos vinculados à loucura e à figura do doente mental, nos artigos foi possível compreender que o preconceito é um ponto que acaba gerando uma assistência sem o mínimo de humanização.

Para que haja as modificações assistenciais apresentadas neste estudo, primeiramente é importante a compreensão do significado de uma emergência psiquiátrica, formas de manejo baseadas no cuidado comunitário e na reabilitação biopsicossocial, além de promover o fortalecimento das redes para que as necessidades dos usuários sejam atendidas no momento da crise.

Portanto, com este estudo fica explicito a necessidade do foco na educação continuada e permanente, recursos humanos e físicos adequados para assistência efetiva, aquisição de conhecimentos, capacitações profissionais que contemplem a atenção à saúde mental de forma plena utilizando a realidade de cada serviço, além do fim do preconceito ao paciente com transtorno mental, é necessário passar pelo processo de enfrentamento dos desafios para construção de uma sociedade que deixe para trás a história da cultura manicomial.

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