MAPEAMENTO DAS AÇÕES DO ENFERMEIRO DE PRÁTICA AVANÇADA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

MAPEAMENTO DAS AÇÕES DO ENFERMEIRO DE PRÁTICA AVANÇADA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

MAPPING THE ACTIONS OF THE ADVANCED PRACTICE NURSE IN A HIGHER EDUCATION INSTITUTION

MAPEO DE LAS ACCIONES DEL ENFERMERO DE PRÁCTICA AVANZADA EN UNA INSTITUCIÓN DE EDUCACIÓN SUPERIOR

AUTORES

Luana dos Santos Dotta Pereira - Acadêmica de Enfermagem, Bolsista do Programa de Iniciação Científica FAPEMIG, Faculdade Wenceslau Braz (FWB), Itajubá, Minas Gerais, Brasil. ORCID ID: 0000-0001-8574-4401. 

Débora Vitoria Alexandrina Lisboa Vilella - Enfermeira. Mestra em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (SP). Brasil. Docente do Curso de Enfermagem e Diretora da Faculdade Wenceslau Braz (FWB), Itajubá, Minas Gerais, Brasil. ORCID ID: 0000-0001-5859-118X

Cristiane Giffoni Braga -  Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (SP) Brasil. Docente, Orientadora PIBIC/FAPEMIG, Coordenadora do Departamento de Ensino e Pesquisa, Graduação em Enfermagem, Faculdade Wenceslau Braz (FWB), Itajubá, Minas Gerais. Brasil. ORCID ID: 0000-0003-2168-191X.  

RESUMO

Mapear as ações do Enfermeiro de Prática Avançada nos campos de ensino clínico e estágio curricular supervisionado de um curso de graduação em enfermagem. Métodos: estudo transversal, descritivo, incluindo 21 enfermeiros. A coleta de dados deu-se por questionário sócio-profissiográfico, alinhado às competências do Conselho Internacional de Enfermeiros no tocante à Prática Avançada de Enfermagem. Resultados: Os enfermeiros demonstraram médio conhecimento em Prática Avançada de Enfermagem, e ações de prática avançada mapeadas como prescrição de agentes terapêuticos para lesões, procedimento de catéter central de inserção periférica, solicitação de exames de imagem e swab peri-anal, pareceres em lesão, manejo e consulta de enfermagem no pré-parto, assistência no parto. Competências no domínio do cuidado e no domínio da gestão/educação foram evidenciadas. Conclusão: evidenciou-se potenciais de ação de Prática Avançada na Instituição de Ensino.

DESCRITORES: Enfermagem; Prática Avançada de Enfermagem; Processo de Enfermagem; Ensino de Enfermagem.

ABSTRACT

To map the actions of Advanced Practice Nurses in the clinical teaching and supervised curricular internship fields of an undergraduate nursing course. Methods: A cross-sectional, descriptive study including 21 nurses. Data was collected using a socio-professional questionnaire, aligned with the International Council of Nurses' competencies regarding Advanced Nursing Practice. Results: The nurses demonstrated medium knowledge of Advanced Nursing Practice, and mapped advanced practice actions such as prescribing therapeutic agents for injuries, peripherally inserted central catheter procedures, requesting imaging tests and peri-anal swabs, injury opinions, management and nursing consultation
in the prepartum period, and assistance in childbirth. Skills in the care domain and the management/education domain were highlighted. Conclusion: There was potential for action in Advanced Practice at the Teaching Institution.

DESCRIPTORS: Nursing; Advanced Nursing Practice; Nursing Process; Nursing Education.

RESUMEN

Mapear las acciones de las Enfermeras de Práctica Avanzada en los campos de la enseñanza clínica y de las prácticas curriculares supervisadas de un curso de enfermería de pregrado. Métodos: Se trató de un estudio transversal, descriptivo, en el que participaron 21 enfermeras. Los datos fueron recogidos a través de un cuestionario socioprofesional, alineado con las competencias del Consejo Internacional de Enfermería en relación a la Práctica Avanzada de Enfermería. Resultados: Las enfermeras demostraron conocimiento medio de la Práctica Avanzada de Enfermería, y mapearon acciones de práctica avanzada como prescripción de agentes terapéuticos para lesiones, procedimientos de catéter central de inserción periférica, solicitud de pruebas de imagen e hisopos perianales, emisión de dictámenes sobre

lesiones, manejo y consulta de enfermería en el período preparto, asistencia al parto. Se destacaron las competencias en el ámbito de los cuidados y en el de la gestión/educación. Conclusión: Hubo potencial de actuación en la Práctica Avanzada en la Institución de Enseñanza.

DESCRIPTORES: Enfermería; Práctica Avanzada de Enfermería; Proceso Enfermero; Educación en Enfermería

Recebido: 20/12/2023
Aprovado: 03/01/2024

Tipo de Artigo: Artigo Original

INTRODUÇÃO

Mudanças no perfil epidemiológico, determinantes do processo saúde-doença, envelhecimento populacional, surgimento de doenças emergentes, desastres naturais e enfrentamento às pandemias têm desvelado fragilidades nos sistemas de saúde e suscitado preocupações referentes à cobertura e acesso universal aos serviços de saúde(1-2). Parte desses impasses, relacionam-se a má distribuição de profissionais nas diversas áreas geográficas, redução da força de trabalho em saúde e restrições impostas à prática de determinadas categorias profissionais, como a enfermagem(3).

Com o intuito de dirimir a problemática supracitada e assegurar a prestação de serviços de saúde essenciais à população, uma das ações reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) foi a implementação da Prática Avançada de Enfermagem (PAE)(3).

A PAE como um instrumento inovador e de impacto, contribui para a qualificação das práticas assistenciais do enfermeiro na prevenção, promoção e reabilitação da saúde em diversos contextos da rede de atenção, integra pesquisa, educação, prática assistencial e gestão(4-5).

Portanto, o profissional enfermeiro que a exerce, deve ter alto grau de autonomia profissional, competência para tomar decisões clínicas, realizar avaliações, diagnósticos e prescrições, sendo responsável por gestão de casos, avaliação e implementação de programas e planos de cuidado, além de serem ponto de referência inicial para os usuários que buscam os serviços de saúde(4).

O Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) conceitua Enfermeiro de Prática Avançada (EPA), o que possui conhecimentos especializados, com nível mínimo de mestrado, que obteve uma base de conhecimento especializada, esteja apto às tomadas de decisões complexas e tenha competências clínicas para prática expandida, cujo perfil é moldado pelo contexto e país em que está credenciado para exercer sua prática(6-7).

Cumpre assinalar que as recomendações do ICN reforçam a importância de investimentos na qualificação da formação do EPA, desde a graduação, se potencializando na capacitação e pleno exercício desta prática no mestrado. Essa abordagem contribui de modo significativo para o aprimoramento do processo de aquisição de habilidades e desenvolvimento de competências de tomada de decisão dos alunos que, como futuros enfermeiros, irão se espelhar em ações e experiências advindas dos campos de ensino clínico e estágio, em que o enfermeiro intervém e obtém resultados sensíveis ao indivíduo, família e comunidade.

Embasadas nesses pressupostos do ICN, o objetivo deste estudo foi mapear as ações do Enfermeiro de Prática Avançada nos campos de ensino clínico e estágio curricular supervisionado da Faculdade Wenceslau Braz (FWB).

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, delineamento descritivo e transversal.

O cenário de estudo foi Itajubá, situada no Sul de Minas Gerais, Brasil, onde a FWB se localiza e mantém convênio para execução de ensino clínico e estágio curricular supervisionado com: Centro de Atendimento de Enfermagem (CAENF), Unidade de Lesão de Pele Enfermeira Isa Rodrigues de Souza, Unidade II Irmã Zenaide Nogueira Leite, Núcleo de Atendimento à Mulher - Banco de Leite Humano (NAN), e Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) e Instituição de Caridade Integrante da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) - Vila Vicentina, Centro de Tratamento Laura Saia Palombo, Estratégias de Saúde da Família Santo Antônio e Santa Rosa, Policlínica Varginha e Lar da Providência de Itajubá. A coleta de dados ocorreu entre junho e julho de 2023.

A população foi composta por enfermeiros que estão na gestão do cuidado nas Unidades supracitadas, atuantes nos campos clínicos e estágio curricular supervisionado da FWB.

A amostragem foi do tipo não probabilística, por conveniência. Incluídos enfermeiros vinculados aos campos clínicos da FWB, de qualquer gênero, com idade superior a 21 anos, graduados em enfermagem com COREn ativo, independentemente do tempo de experiência na unidade.

Excluídos enfermeiros que estivessem apenas no dia da coleta de dados cobrindo licença médica ou período de férias, afastados no momento da coleta.

Prevendo a natureza atual da administração vigente, realizou-se um contato prévio com os enfermeiros RT, além dos coordenadores de instituições. A coleta de dados foi agendada na instituição envolvida, preparou-se uma sala para garantir a privacidade na emissão das respostas, além do acesso a documentação da enfermagem. Aqueles que concordaram assinaram o registro de consentimento livre e esclarecido e responderam ao questionário de coleta de dados.

O questionário utilizado abordou às características socio-profissiográficas, incluindo formação, área de atuação, competências específicas na área de gestão do processo sistematizado do cuidar e a experiência em relação à PAE. Este questionário foi formulado a partir das 22 características instituídas nas Diretrizes do ICN para o EPA. Dessas, 12 foram apresentadas e distribuídas conforme os três domínios estabelecidos nas diretrizes: Preparo Educacional, Natureza da Prática e Mecanismos Regulatórios – regulamentação profissional específica do país e políticas que sustentam o exercício de EPA(6).

Salienta-se que o questionário passou por um processo de validação de face e conteúdo, no primeiro semestre de 2023, realizado por cinco juízes expertos em Processo de Enfermagem (PE) e ações de PAE, com comprovada experiência de atuação profissional na assistência e docência em enfermagem. Esses especialistas avaliaram o instrumento quanto à clareza, importância e adequação de cada um dos itens.

As variáveis coletadas durante o estudo foram analisadas por meio de estatística descritiva. Os dados nominais e categóricos foram submetidos à análise de frequência simples, os dados contínuos foram analisados por medida de tendência central e dispersão.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário FEPI, através do número de CAAE: 69615323.3.0000.5094.

RESULTADOS

As características socio-profissiográficas da amostra estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Variáveis categóricas de caracterização socio-profissiográficas dos participantes do estudo. Itajubá, Minas Gerais, Brasil, 2023. (n=21)

Variáveis

dp*

n (%)

Idade, em anos, média

36.2 (8.9)

 

Sexo feminino

 

20 (95.2%)

Estado civil, casado

 

9 (42.8%)

Tempo de experiência profissional

10.76 (8.0)

 

Fonte: das autoras (2023).

Nota: *dp= desvio padrão.

No que tange a formação dos participantes, 100% obtiveram o título de ensino superior em instituições de ensino privadas, com destaque significativo para a FWB que correspondeu a 95.23% da amostra.

Quanto ao nível formação concluído, 76.19% (n=16) dos enfermeiros tinham especialização, e apenas 4.76% (n=1) mestrado. Além disso, dentre aqueles com especialização, 47.62% (n=10) tinham apenas uma especialização.

As principais especialidades entre os enfermeiros encontram-se na Figura 1.

Figura 1. Principais especialidades entre os enfermeiros participantes do estudo. Itajubá, Minas Gerais, Brasil, 2023. (n=21)

No contexto da área de atuação profissional, mais da metade dos enfermeiros (52.38%, n=11) exercem suas atividades no setor de atenção hospitalar/especializada com tempo de atuação variando de meses a 26 anos.

Acerca dos setores de atuação, 14.29% (n= 3) dos enfermeiros concentravam-se na UTI 14.29% (n= 3) clínica cirúrgica; 14.29% (n= 3) ESF; 9.52% (n=2) RT; 4.76% (n=1) Banco de leite humano; 4.76% (n=1) CAPS II; 4.76% (n=1) Centro de Material e Esterilização (CME); 4.76% (n=1) Equipe de Atenção Primária à Unidade Básica de Saúde (EAP-UBS); 4.76% (n=1) endoscopia; 4.76% (n=1) enfermaria; 4.76% (n=1) hemodiálise; 4.76% (n=1) maternidade; 4.76% (n=1) unidade de lesão de pele e 4.76% (n=1) serviço de oxigenoterapia e ostomias.

Ao mapear o conhecimento dos enfermeiros sobre a PAE, 66.67% (n=14) afirmaram conhecer o conceito, e 47.63% (n=10) classificaram seu conhecimento como médio.

Além disso, os participantes foram questionados, acerca de suas ações que consideravam na instituição e que são de PAE, conforme exposto na Tabela 2.

Tabela 2. Ações que os participantes do estudo consideravam na instituição e que são de PAE. Itajubá, Minas Gerais, Brasil, 2023. (n=21)

Variáveis

n (%)

Prescrição de agentes terapêuticos para lesões.

3 (14.2%)

Realização do procedimento Catéter Central de Inserção Periférica

2 (9.5%)

Solicitação de exames de imagem

2 (9.5%)

Solicitação de swab peri-anal

2 (9.5%)

Solicitação e resposta de pareceres sobre lesão

2 (9.5%)

Manejo e consulta de enfermagem no pré-parto

1 (4.7%)

Assistência no parto

1 (4.7%)

Fonte: das autoras (2023).

No tocante ao domínio do cuidado, as competências descritas pelos enfermeiros encontram-se na Tabela 3.

Tabela 3. Domínio do cuidado dos participantes do estudo. Itajubá, Minas Gerais, Brasil, 2023. (n=21)

Variáveis

n (%)

Tomadas de decisões éticas

20 (95.2%)

Encaminhamento paciente para outro serviço ou profissional

17 (80.9%)

Prescrição ou realização de procedimentos não farmacológico

15 (71.4%)

Participação em reuniões clínicas multiprofissionais com discussões de casos

15 (71.4%)

Teleconsulta em enfermagem

11 (52.3%)

Atuação no atendimento aos complexos problemas de saúde da população vulnerável e de risco

7 (33.3%)

Prescrição de medicamentos

7 (33.3%)

Estratificação de risco de doença crônica

7 (33.3%)

Realização acolhimento por demanda espontânea

7 (33.3%)

Procedimentos de enfermagem de alta complexidade

3 (14.2%)

     

Fonte: das autoras (2023).

Nota:* Destaca-se que o quantitativo de respostas não estão condizentes com a amosta (n=21), pois os participantes realizavam mais de uma ação, referente ao domínio do cuidado.

Já, no tocante ao domínio da gestão/educação, as competências descritas pelos enfermeiros encontram-se na Tabela 4.

Tabela 4. Domínio da gestão/educação dos participantes do estudo. Itajubá, Minas Gerais, Brasil, 2023. (n=21)

Variáveis

n (%)

Controle e manejo de materiais e equipamentos para a prática clínica

7 (33.3%)

Realização de auditoria

4 (19.0%)

Controle de custos

4 (19.0%)

Educação continuada

3 (14.2%)

Participação em planejamento estratégico e contratações

2 (9.5%)

 

Fonte: das autoras (2023).

Nota:* Destaca-se que o quantitativo de respostas não estão condizentes com a amostra (n=21), visto que, um dos participantes não realizava ações neste domínio.

DISCUSSÃO

De acordo com o relatório O Estado da Enfermagem no Mundo, publicado em 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 89% da força de trabalho de enfermagem é composta por mulheres(8).

No tocante a faixa etária, um estudo que explorou as percepções de enfermeiras registradas no programa preparatório de PAE e de EPA em relação ao recrutamento de homens para a força de trabalho de PAE, constataram que a idade média dos enfermeiros entrevistados correspondeu a 36 anos, variando entre 29 e 43 anos. Informações similares também foram observadas neste estudo, no qual, a amostra também apresentou idade média de 36 anos. Contudo, notou-se uma ampla variação na faixa etária, abrangendo profissionais de 23 a 52 anos(9).

A respeito do estado civil, constatou-se que a maioria dos enfermeiros eram casados, achados que corroboram com a literatura que determinou a relação entre diferentes níveis de conflito trabalho-família e qualidade de vida profissional e suas características sociodemográficas entre 234 enfermeiros de dois hospitais em Teerã, Irã. Nesta, os autores também identificaram que grande parte (70.5%) da amostra era casada(10).

Referente ao tempo de formação, observou-se uma média de 10.76 anos, abrangendo desde profissionais recém formados, com menos de um ano de experiência, até aqueles com 27 anos de formação. Todavia, esses dados contrastam com outro estudo que analisou os estilos e fatores intervenientes na gestão e liderança de enfermeiros do Brasil, Portugal e Espanha, à luz da Burocracia Profissional, o tempo médio de formação variou entre nove a 37 anos(11).

Diante dessa variação observada, ainda que no Brasil, o processo de graduação dos enfermeiros perpasse pela comunicação, liderança, administração, gerenciamento e tomada de decisões, conforme as diretrizes curriculares propostas, infere-se que os profissionais com maiores experiências, tendem a desenvolver habilidades e conhecimentos específicos, mediante a vivência profissional(11).

Já acerca do caráter da instituição de ensino, um estudo transversal analítico realizado com 226 enfermeiros, com o objetivo de mensurar as atitudes dos enfermeiros acerca do PE em hospital público de ensino, observaram que 67.7% (153) da amostra cursaram graduação em universidade privada. Informações que se assemelham aos resultados do vigente estudo, no qual, 100% graduaram-se em uma instituição de ensino privada(12).

Em relação à formação profissional, uma evidência que avaliou o desempenho por competências de 45 enfermeiros hospitalares, evidenciou que 42.2% deles tinham alguma especialização (pós-graduação lato sensu), 40% possuíam somente a graduação, 13.3% apresentavam mestrado e apenas 4.4% doutorado (pós-graduação sticto sensu)(13). Em consonância com os achados mencionados acima, a presente pesquisa também observou que grande parte dos enfermeiros possuíam alguma especialização e a minoria tinha mestrado ou doutorado.

Referente ao número de especializações, um estudo que analisou os fatores que influenciam a prática de 31 enfermeiros na consulta de puericultura na APS, constatou que 18 (58.1%) tinham apenas uma especialização, enquanto 12 (38.7%) possuíam duas ou mais. Achados esses que corroboram com este estudo, em que a maioria dos enfermeiros apresentavam apenas uma especialização.

Dentre as áreas de especialização lato sensu, verificou-se que grande parte dos enfermeiros optaram por se especializar principalmente em UTI e Urgência e Emergência. Informações que estão em consonância com literatura que destaca que a especialização em Urgência e Emergência configura-se como uma das mais procuradas(14).

Relativo à área de atuação profissional neste estudo, foi observado que a maioria dos enfermeiros (52.38%) desempenha suas funções no setor de atenção hospitalar/especializada. Enquanto isso, 23.81% atuam em outras áreas, 19.04% dedicam-se à atenção básica e somente 4.76% estão envolvidos no gerenciamento de serviços.

No que concerne o tempo de atuação dos enfermeiros nas áreas mencionadas no parágrafo anterior, notou-se que aqueles atuantes na atenção hospitalar/especializada tinham uma experiência mais prolongada no setor, variando desde meses até 26 anos.

Ao contrário, entre os profissionais da atenção básica, identificou-se que o período de atuação no setor foi um pouco menor, variando de meses até 18 anos.

Nas outras áreas, o tempo de serviço abrangeu desde alguns meses até 10 anos, enquanto no campo do gerenciamento de serviços, o período de atuação foi ainda mais restrito, limitando-se à meses. Diante do exposto, infere-se que essa ampla variação pode estar atrelado desde às preferências individuais, oportunidades de emprego disponíveis e até às complexidades e grandes demandas do setor.

Quanto ao setor de atuação, destacou-se enfermeiros na área de terapia intensiva, indo ao encontro com a literatura, em que a maioria dos profissionais (36.12%) estavam lotados nesta unidade hospitalar(15).

No tocante ao conhecimento da PAE, 66.67% enfermeiros relataram saber sobre, e ter médio conhecimento (47.72%), o que demonstra indicador positivo para ações em potencial para a PAE nos campos de ensino clínico e estágio curricular supervisionado. Assim como, fazendo com que os alunos de graduação em enfermagem despertem interesse em buscar desenvolver habilidades favoráveis para tal prática, pois os enfermeiros podem ser agentes chaves na consecução desta prática(16).

Acerca das ações executadas pelos profissionais entrevistados que consideravam e que são de PAE, as mais mencionadas foram prescrição de agentes terapêuticos para lesões, realização de procedimento catéter central de inserção periférica, solicitação de exames de imagem, swab peri-anal, solicitação e resposta de pareceres sobre lesão, manejo e consulta de enfermagem no pré-parto e assistência no parto.

Tais achados se associam em algumas atividades clínicas do documento do ICN, em nota técnica do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), como autoridade para prescrição, para solicitação de exames clínicos de saúde para avaliação avançada de saúde, indicação de tratamentos, em especial neste estudo na interface com lesões e contrarreferenciar usuários específicos(16-17).

No tocante ao domínio do cuidado, constatou-se que as ações mais realizadas pelos enfermeiros incluíram tomadas de decisões éticas, encaminhamento do paciente para outro serviço ou profissional, prescrição ou realização de procedimentos não farmacológico, participação em reuniões clínicas multiprofissionais com discussão de casos, teleconsulta em enfermagem, atuação no atendimento aos complexos problemas de saúde da população vulnerável e de risco, prescrição de medicamentos, estratificação de risco de doença crônica, realização de acolhimento por demanda espontânea e procedimentos de enfermagem de alta complexidade.

Estudos revelam que a prescrição de enfermagem tem crescido significativamente no cenário mundial ao longo da última década, sobretudo em virtude aos esforços advindos de lideranças importantes e de reformas substanciais de legislações e de políticas que têm incentivado e apoiado enfermeiros para assumirem papéis de prescrição tanto em esferas de atenção aguda quanto em saúde comunitária(18-19).

Por fim, quanto ao domínio da gestão/educação, constatou-se que os profissionais desempenham diversas funções, das quais se destacaram: controle e manejo de materiais e equipamentos para a prática clínica, a realização de auditorias, o controle de custos, educação continuada e a participação em planejamento estratégico e contratações. Os achados do estudo revelam as conexões entre ações e competências desenvolvidas por esses profissionais e as demandas sinalizadas pelo ICN.

Como limitações do estudo houve a dificuldade de recrutamento dos participantes para a coleta de dados e as recusas acabam impedindo a generalização dos resultados.

O estudo contribui para a prática clinica no sentido que a temática na graduação torna-se fundamental para que os discentes desenvolvam habilidades de raciocínio clínico e julgamento crítico. Estando estes, aptos para a prestação de cuidados, condizentes com as necessidades do indivíduo, família e comunidade com autonomia e utilizando sempre da melhor evidência científica.

CONCLUSÃO

O mapeamento de ações em potencial para a PAE, no contexto de ensino clínico e estágio curricular supervisionado, constatou que: (95.24%) da amostra foi constituída por enfermeiros do sexo feminino, (42.86%) casados, com tempo de formação correspondente à 10 anos, (100%) com ensino superior em instituições privadas, sendo que 95% deles graduaram-se na FWB, com titulação de especialistas, com destaque em (19.04%) em Terapia Intensiva e Urgência/Emergência, (52.38%) atuantes na área hospitalar/especializada com experiência de até 26 anos, no setor da UTI.

Quanto ao conceito de PAE, (66.67%) entendem o conceito, com (47.63%) um nível de conhecimento médio.

Embora existam desafios para a efetivação das ações de prática avançada, como possuir a limitação de possuir apenas o título de especialista, esses profissionais encontram-se em potencial para a PAE por expressarem conhecimentos, atitudes, habilidades na prescrição de agentes terapêuticos, consulta de enfermagem, procedimentos como cateter central de inserção periférica e exames diagnósticos.

No entanto, há fragilidades educacional nos campos de prática que fazem com que esses achados mereçam a atenção dos órgãos legisladores e das instituições de ensino, formadores de recursos humanos de enfermagem para que este desafio possa ser superado, indo ao encontro das recomendações do ICN para qualificação da formação do enfermeiro desde a graduação.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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