Morte, más notícias e cuidados paliativos: como proceder?

2022-04-27

Prof. Patrick Leonardo Nogueira da Silva, Tiago Gusmão Freitas

 

No dia 26/03/2022, das 9h às 12h, foi realizada uma palestra sobre “Morte, más notícias e cuidados paliativos”, presidido pelo professor Dr. Cláudio Henrique Rebello Gomes aos acadêmicos do 6º período do curso médico das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE), no auditório da FUNORTE, no polo São Norberto. Ainda, encontravam-se presentes os respectivos tutores do curso médico: Dra. Karla Maria Gonçalves Silveira Barros, Dra. Mariane Silveira Barbosa e o Dr. Edmilson Santos.

A morte, para muitos profissionais médicos, ainda é tida como um tabu, tendo em vista o medo de sua anunciação, tanto para a família quanto para o paciente, bem como o receio de não saber conduzir e abordar tal notícia. Durante a palestra, foi abordado pelo professor palestrante que a vida é finita e que a beleza se encontra em sua finitude, tendo em vista o término de um ciclo e o início de outro novo ciclo. Esta ideia foi exemplificada na palestra por meio de duas flores, uma sendo natural e outra sendo artificial. A flor natural é bela quando está cheia de vida, quando podemos cuidar e acompanhar a sua trajetória. É mais bela ainda quando seu ciclo termina. Diferentemente de uma flor artificial o qual não tem qualquer atrativo tendo em vista que nunca morrerá.

A possibilidade da morte, anunciada pela comunicação de cuidados paliativos exclusivos, leva alguns membros da família ao estado de negação evidenciando que o mais difícil é aceitar a situação e aprender a lidar com as intercorrências, o sentimento de impotência perante o sofrimento e a aproximação da morte. Desse modo, reconhecem a importância de profissionais que acolhem, escutam e apoiam. A comunicação do médico com o paciente quanto ao anúncio de más notícias apresenta fatores dificultadores do processo, sendo os principais: (1) a repercussão da má notícia na saúde do paciente; (2) receio de causar ou aumentar a dor no paciente ou de ser culpado pelo mesmo; e (3) receio de falha terapêutica, de problema judicial, do desconhecido, de dizer “não sei” e expressar suas emoções.

A comunicação, tanto com o paciente quanto com a família, bem como com a equipe multiprofissional, é um fator imprescindível. Dela depende uma abordagem clara, simples e humanística, considerando os sentimentos do paciente, a empatia do médico durante todo o processo, o apoio das pessoas mais próximas e um acompanhamento multiprofissional diferenciado. Para isso, o médico deve se preparar para o encontro com o paciente, de modo a percebê-lo e convidá-lo para o diálogo, transmitir as informações expressando emoções. Ao final, deve-se fazer um pequeno resumo de todo o quadro clínico para que o paciente entenda.

O suporte devir da família, bem como fornecida a ela também, pois assim, todos passam a se sentir melhor e mais confortáveis com a nova realidade vivenciada. Ainda, é muito importante que os sintomas do paciente sejam aliviados constantemente, indo além da oferta de se possibilitar o mínimo de impacto possível em seu dia a dia, mas também para o preparo da família no acompanhamento desta nova fase. Esses cuidados acontecem de maneira integrada, de modo que toda a equipe médica e equipe multiprofissional exercem funções de extrema importância.

Na palestra, foi abordado que a razão de existência dos cuidados paliativos é para ofertar uma morte digna ao paciente, de modo que nunca devemos dizer ao paciente, à família e à equipe que “não há mais nada o que fazer”, tendo em vista que há sim muito que se fazer pelo paciente. Em razão disso, o paciente pode aproveitar o pouco tempo que lhe resta fazendo coisas que há muito tempo não fazia ou que nunca fizera ao lado das pessoas mais importantes em sua vida.

Foi discutido e enfatizado que registrar, por meio de fotos, o processo de morte do paciente, considerando todos os quesitos éticos, é saudável e recomendável. Foi exemplificado pelo palestrante a respeito de uma determinada paciente com prognóstico ruim e em fase progressiva da doença o qual aproveitou seus últimos momentos ao lado da família fazendo algo que nunca havia feito na vida que era ir à praia, pois jamais conhecera o mar. E este momento foi totalmente custeado, de comum acordo, pela equipe médica e pela empresa de transporte e turismo no intuito de ver a paciente feliz e realizada. Conforme o desejo da paciente, todos estes momentos foram registrados por fotos, postadas em suas redes sociais pela própria paciente e pela sua família, e também foram enviadas ao seu médico. Quando a sua partida deste mundo terreno chegou, todos que a conheciam ficaram felizes por ela ter realizado o seu último sonho de vida e não manifestaram tristeza pela sua morte, de modo a lembrar dela sempre feliz e com um sorriso nas fotos.

Ao final da palestra, foi disponibilizado um espaço para debate por meio de perguntas ao palestrante. As discussões foram ricas de detalhes e experiências vivenciadas por cada um. Portanto, podemos concluir de tudo isso que a morte é inerente ao ser humano, de modo que não devemos ter medo e trabalhar estas questões diariamente com a equipe, os familiares e o paciente ofertando-os uma melhor qualidade assistencial, acolhimento, escuta e apoio, fortalecer uma comunicação simples, clara, objetiva e empática, respeitar seus últimos desejos e propiciar a vivencia de momentos felizes, bem como o registro dos mesmos.

 

Fonte: Prof. Patrick Leonardo Nogueira da Silva (Mestrando pelo PPGCPS/UNIMONTES), Tiago Gusmão Freitas (Acadêmico de Medicina da FUNORTE).

Foto Ilustrativa: Freepik