CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM ESTOMA DE ALIMENTAÇÃO E HIDRATAÇÃO: REVISÃO INTEGRATIVA

NURSING CARE FOR PATIENTS WITH FEEDING AND HYDRATION STOMA: INTEGRATIVE REVIEW

CUIDADOS DE ENFERMERÍA AL PACIENTE CON ALIMENTACIÓN E HIDRATACIÓN ESTOMA: REVISIÓN INTEGRATIVA

Elisabete Bauer Schumann1 

Andreia Barcellos Teixeira Macedo2 

 Ariane Graciotto3 

Deborah Bulegon Mello3

Mariana Iribarrem Ness4

Elisangela Souza3 

Silvana Mara Janning Prazeres1 

 Instituições: 1UNISINOS, 2PesquisaHealth, 3Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 4Hospital São Lucas da PUCRS

 Porto Alegre

RESUMO

Objetivo: verificar na literatura das ciências da saúde os cuidados de enfermagem para pacientes com estomas de alimentação e hidratação. Métodos: revisão integrativa da literatura construída em seis etapas. A busca das publicações ocorreu em dezembro de 2023, nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências de la Salude (IBECS) e Medline, por meio da combinação dos descritores “Gastrostomia”, “Jejunostomia”, “Cuidados de Enfermagem”, “Enfermagem” e “Atenção ao Paciente”, com seus derivados em inglês e espanhol. As informações foram organizadas e sumarizadas em um formulário construído pelos autores, com cuidados de enfermagem categorizados por aproximação semântica.  Resultados: a amostra foi composta por 21 publicações. Os dados que emergiram foram categorizados em cuidados com dispositivo, administração de dieta e medicação, estoma e pele, complicações, educação em saúde, cuidados gerais com o paciente, apoio psicoemocional e social, autocuidado, independência e adesão ao tratamento, e aspectos importantes para a equipe de saúde. Conclusão: frente à complexidade da situação entende-se que o enfermeiro possui uma série de cuidados, o que deve ser organizado de forma organizada e em conjunto, visto que o uso de uma ostomia afeta tanto o indivíduo quanto sua família.

DESCRITORES: Gastrostomia. Jejunostomia. Cuidados de Enfermagem. Enfermagem. Atenção ao Paciente. Estomaterapia.

SUMMARY

Objective: to verify the literature of health sciences and disease care for patients with feeding and hydration stomas. Methods: integrative review of literature constructed in six stages. In search of publications due in December 2023, in the databases of Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Nursing Data Base (BDENF), Spanish Bibliographic Index in Health Sciences (IBECS) and Medline, by combining two descriptors “Gastrostomy”, “Jejunostomy”, “Nursing Care”, “Enfermagem” and “Patient Care”, with their derivatives in English and Spanish. The information is organized and summarized in a form constructed by the authors, with sick care categorized by semantic approximation. Results: the sample was composted by 21 publications. The data that emerged are categorized into device care, diet and medication administration, stoma and skin, complications, health education, patient care, psychoemotional and social support, self-care, independence and adherence to treatment, and important aspects for to the health team. Conclusion: Faced with the complexity of the situation, it is understood that the nurse has a series of care, or that it must be organized in an organized manner and as a whole, given that the use of an ostomy affects both the individual and his family.

DESCRIPTORS: Gastrostomy. Jejunostomy. Nursing Care. Nursing. Patient Care. Stomatherapy.

RESUMEN

Objetivo: verificar los cuidados de enfermería a pacientes con estomas de alimentación e hidratación en la literatura de ciencias de la salud. Métodos: revisión integrativa de la literatura construida en seis etapas. La búsqueda de publicaciones se realizó en diciembre de 2023, en las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), Base de Datos de Enfermería (BDENF), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS) y Medline, mediante la combinación de los descriptores “Gastrostomia”, “Jejunostomia”, “Cuidados de Enfermería”, “Enfermería” y “Cuidados al Paciente”, con sus derivados en inglés y español. La información fue organizada y resumida en un formulario creado por los autores, con los cuidados de enfermería categorizados por aproximación semántica. Resultados: la muestra estuvo compuesta por 21 publicaciones. Los datos surgidos se categorizaron en cuidado del dispositivo, administración de dieta y medicamentos, estoma y piel, complicaciones, educación para la salud, atención general al paciente, apoyo psicoemocional y social, autocuidado, independencia y adherencia al tratamiento, y aspectos importantes para el equipo de salud. Conclusión: dada la complejidad de la situación, se entiende que el enfermero tiene una serie de cuidados, los cuales deben ser organizados de manera organizada y conjunta, ya que el uso de una ostomía afecta tanto al individuo como a su familia.

DESCRIPTORES: Gastrostomía. Yeyunostomía. Atención de Enfermería. Enfermería. Atención al Paciente. Estomaterapia.

INTRODUÇÃO

A palavra estoma refere-se a uma abertura confeccionada em um órgão ou víscera oca a fim de obter via de comunicação entre o meio interno e externo. Também pode ser chamado de ostoma e são mais comumente realizados nos sistemas digestório, urinário ou respiratório podendo permanecer por curtos períodos ou ainda de maneira permanente. São utilizadas principalmente como função de eliminação, respiração ou alimentação1.

Na função de alimentação ou hidratação, as estomias são utilizadas frente a incapacidade do indivíduo para ingestão de alimentos ou líquidos, mas que ainda possuem preservadas as funções de motilidade e absorção intestinal a fim de fornecer um adequado aporte nutricional via enteral. Surgiram como opção alternativa às sondas nasoentéricas e/ou nasogástricas, sendo descritas desde 1980 pela literatura. São considerados procedimentos seguros e de baixo custo2.

Verifica-se que para a confecção das estomias de alimentação e hidratação são utilizados vários tipos de sondas e de técnicas de inserção. Dentre as principais estão a gastrostomia, na qual uma sonda é inserida no estômago por meio de uma incisão cirúrgica ou de forma endoscópica percutânea (PEG), e a jejunostomia instalada mediante procedimento cirúrgico, endoscópico ou radiológico na porção do jejuno. A indicação da posição da sonda dependerá das condições do paciente em receber alimentos via gástrica ou não3.

Apesar de ser um procedimento considerado seguro e amplamente utilizado, existem alguns riscos relativos a possíveis complicações como infecção local,  obstrução do fluxo da sonda, vazamento de conteúdo através do sítio de inserção do dispositivo, remoção acidental do dispositivo, sangramento na pele ou na mucosa puncionada, peritonite, fístulas gastro ou entero cutâneas cutâneas, migração da porção interna da sonda para o interior da parede abdominal, aspiração de refluxo gástrico para vias aéreas, fasceíte necrosante da fáscia superficial em contato com a sonda, irritação ou dermatite periestoma,  náuseas, vômitos, diarréia ou constipação e por fim, granuloma periestomal 2,4.

Os dados epidemiológicos relacionados à população portadora de gastrostomias são incipientes já que dependem principalmente de uma uniformidade nos registros informatizado das instituições de saúde relativas a essa população. Estimativas brasileiras apontam para mais de 400 mil pessoas estomizadas, porém, este dado não se refere apenas aos estomas de alimentação5,6.

A enfermagem, na atenção ao paciente portador de ostomias de alimentação, pode atuar tanto na prevenção quanto no tratamento das complicações relacionadas à utilização do dispositivo terapêutico. Por este motivo, o profissional deve se manter atualizado em relação às práticas embasadas em evidências científicas para fornecer um cuidado seguro e de qualidade3.

Também, devido ao incremento nos números relativos às pessoas que utilizam tais vias de alimentação, torna-se premente aprimorar o cuidado clínico por meio de discussões, sistematização da assistência e aquisição de conhecimento de forma continuada sobre esta área do saber, além de assistir a pessoa estomizada com um olhar sensível e compreensível(7).

Frente ao exposto, este estudo objetiva mapear na literatura das ciências da saúde os cuidados de enfermagem para pacientes com estomas de alimentação e hidratação. A justificativa para o tema se baseia na necessidade de propiciar conhecimento para acadêmicos e profissionais da enfermagem, frente à pouca abordagem sobre o tema na graduação, fornecendo subsídios para que possam assistir nas diversas áreas de atenção em saúde e educar a família para o cuidado domiciliar, visando qualidade e segurança na administração de dieta enteral.

MÉTODO

A identificação dos cuidados de enfermagem com estomias de alimentação ocorrerá por meio de revisão integrativa (RI), a qual foi construída em seis etapas: formulação da questão de pesquisa, busca bibliográfica, extração de dados, avaliação crítica, análise e sumarização dos estudos e síntese do conhecimento(8).

A escolha por este delineamento ocorreu, pois, a RI permite uma abordagem mais ampla, com inclusão de estudos experimentais e não-experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado e combina dados da literatura teórica e empírica, gerando um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem(9).

A questão de pesquisa foi formulada com auxílio da estratégia PICO (acrônimo para P - população, I - intervenção/área de interesse, C - comparação e O -resultado/desfecho)(10), onde a população considerada foram indivíduos com estomia; área de interesse foi estomias para alimentação e hidratação; não houve comparação; e o desfecho investigado cuidados de enfermagem. Desta forma, definiu-se como questão norteadora: “Quais são os cuidados de enfermagem para pacientes com estomas para alimentação e hidratação?

A busca na literatura ocorreu em dezembro de 2023, nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências de la Salude (IBECS) e na Medline via PUBMED. A escolha das bases de dados considerou a abrangência e afinidade com o tema.

Para identificação ampliada das pesquisas foram utilizados os descritores controlados “Gastrostomia (Gastrostomy, Gastrostomía)”, “Jejunostomia (Jejunostomy, Yeyunostomía)”, “Cuidados de Enfermagem (Nursing Care, Atención de Enfermería)”, “Enfermagem (Nursing, Enfermería)” e “Atenção ao Paciente (Patient Care, Atención al Paciente)” selecionados por meio de pesquisa no Medical Subject Headings (MESH) e Descritores em Ciências da Saúde (DECS), organizadas com operadores booleanos AND e OR.  Os termos foram pesquisados no título e resumo das publicações nas bases que permitiam esta seleção (Quadro 1).

Incluiu-se artigos científicos, teses e dissertações, publicados em português, inglês e espanhol, disponíveis na íntegra, relacionados com o tema proposto e em qualquer área de cuidado (hospitalar, domiciliar ou atenção básica), que versassem sobre cuidados em adultos ou em crianças, publicados no período de 2013 a 2023. As revisões de literatura foram incluídas para que não se perdesse informações relevantes no mapeamento dos cuidados.

Excluiu-se publicações apresentadas em formato de editoriais, protocolos, pré-prints, arquivos em formato de mídia, pesquisas qualitativas ou de opinião e publicações sem disponibilidade gratuita do texto. Os artigos duplicados foram contabilizados somente uma vez.

Ocorreram três momentos de exclusão: primeiramente das publicações duplicadas, com apoio da ferramenta de avaliação de dados duplicados do Excell®, em uma segunda etapa pela leitura do título e do resumo e por fim, após a leitura dos textos na integra. Para o mapeamento, as publicações foram exportadas para o software Excell® e organizadas e sumarizadas em um formulário construído pelos autores, com dados da publicação (periódico, ano e idioma da publicação, objetivo do estudo) e os cuidados de enfermagem, os quais foram categorizados por aproximação semântica.  

O relato é norteado pelo checklist do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)(11), com o apoio de quadros, após a análise qualitativa e descritiva dos dados.

Respeitaram-se os aspectos éticos, com citação fidedigna das fontes e definições dos autores.

Quadro 1 – Expressões de busca do estudo. Porto Alegre, RS, Brasil, 2024

Fonte: dados da pesquisa, 2023

RESULTADOS

Foram identificados 270 estudos, sendo 143 na Medline, 4 na SciELO, 52 na LILACS, 16 na IBECS e 55 na BDENF. A amostra final foi composta por 21 publicações (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos. Porto Alegre, RS, Brasil, 2024

Em relação ao país de publicação, 8 estudos foram no Brasil, 7 nos Estados Unidos, 4 na Inglaterra, um na Espanha e um na China. Selecionou-se 12 estudos do tipo revisão, sendo 7 descritiva/narrativa, 4 integrativas e uma de escopo, dois estudos de caso, três relatos de experiência, três estudos metodológicos e um estudo descritivo de sumarização de um guideline. As características dos estudos estão no Quadro 2.

Quadro 2– Descrição das publicações quanto ao autor, título do artigo, ano, base de dados, país de origem. Porto Alegre, RS, 2024.

Fonte: dados da pesquisa, 2024

Os achados relacionados aos cuidados de enfermagem foram divididos em 9 grandes categorias, as quais se encontram no Quadro 3.

Quadro 3– Cuidados de enfermagem citados pelos autores da amostra. Porto Alegre, RS, 2024.

Fonte: dados da pesquisa, 2024

        Não foram identificados estudos que versassem sobre acompanhamento na rede básica de pacientes com estomias de alimentação.

DISCUSSÃO

Este estudo identificou na literatura uma série de cuidados de enfermagem para os pacientes que necessitam de alimentação por meio de estoma, demonstrando que se trata de uma situação complexa, que carece de acompanhamento do enfermeiro rotineiramente. Por outro lado, também demonstra a importância do empoderamento da família/cuidador, para a realização dos cuidados de forma adequada e para a identificação dos sinais de alerta.

Pacientes estomizados carecem de orientações no pré-operatório (2,18,21,22), e a ausência destas informações pode acarretar complicações posteriores, além de consequências psicoemocionais.  No cotidiano assistencial, identifica-se também a falta de planejamento e da abordagem sobre plano terapêutico com o paciente e família, aqui identificado somente em um estudo(21).

O conhecimento sobre o dispositivo escolhido (19,22,26,30), assim como os cuidados a serem realizados com a sonda ou botão para alimentação (3,15,17,22,26–28,30) foram apontados como ferramenta fundamental para o êxito deste tipo de terapia.

Dada a importância e grande volume de informações a serem internalizadas, destaca-se que é fundamental realizar as ações de educação ao paciente e família ao longo de todo o acompanhamento e por repetidas vezes. Dificilmente todas as informações pertinentes serão assimiladas em uma única abordagem, desta forma, é vital que os encaminhamentos, orientações e esclarecimento de dúvidas acompanhem o curso terapêutico (31).

Para a manutenção do cuidado de forma adequada, é necessário haver uma equipe multidisciplinar durante todo o percurso, com a criação do vínculo paciente-enfermeiro e o uso de estratégias educativas, o que pode contribuir para minimizar possíveis dificuldades e complicações no manejo com o estoma, fornecendo orientações de forma clara e prática(32). Outro fator importante é a figura do enfermeiro especialista(16) ou expert na área de estomias. Na prática observa-se que os profissionais nem sempre estão habilitados para os cuidados destes pacientes, o que pode tardar na identificação das complicações, por exemplo.

Estudo sobre a adaptação das famílias no cuidado à criança em uso de estomia para alimentação demonstrou que os cuidadores costumam apresentar dificuldade após a alta hospitalar, ao realizar os cuidados diários, tendo dúvidas frequentes, o que reforça a importância de um material escrito para consulta no domicílio(24).  

Meios educativos como folder, cartilha e vídeo de orientação são medidas facilitadoras durante o processo de cuidar e orientar. A necessidade de um material impresso foi identificada por enfermeiros especialistas atuantes em um serviço para estomizados da cidade de Porto Alegre, RS, as quais construíram uma cartilha de orientações com linguagem clara e de fácil compreensão, visando auxiliar os pacientes na nova jornada(32).

As repercussões na vida do paciente estomizado tem impacto significativo em sua qualidade de vida. Os indivíduos têm que aprender a lidar com um novo corpo, novo instrumento, novas formas de viver e, por muitas vezes, surgem vulnerabilidades durante esse processo, com momentos de fragilidade emocional. A preocupação com questões psicoemocionais surgiu apenas em três estudos (13,22,29), apesar de ser extremamente relevante.  

A utilização de todos os recursos disponíveis para a reinserção deste cidadão na sociedade é imprescindível para o sucesso deste processo (21), com retorno às atividades prévias. Um ponto importante, destacado no presente estudo, é a manutenção de períodos de refeição em família, por exemplo, apesar de se alterar a forma de se alimentar de um dos indivíduos, o ideal é não o afastar da rotina familiar de alimentação.

A implementação terapia nutricional via gastrostomia ou jejunostomia precisam de certos cuidados e atenção, por parte dos profissionais da área da saúde e do paciente e família que manuseiam o dispositivo (2,13,15,18,19,21,22,24,26,27,30), fato que aparece em vários estudos. O cuidado precisa ser individualizado e elaborado em conjunto com equipe multidisciplinar, contando, principalmente, com nutricionista para que o paciente receba todo aporte calórico/nutritivo necessário e saiba lidar com o dispositivo.

Outro fator preocupante e que requer cuidados específicos é a administração de medicamentos (3,13,15,18,19,21,23,24,26,30). Embora pareça uma atividade relativamente simples, a administração de comprimidos mal triturados pode ocasionar obstrução do dispositivo. Outro fator importante é a absorção da medicação, que pode estar prejudicada, dependendo do local de inserção do tubo para alimentação. Neste sentido, é preciso atenção para a biodisponibilidade das medicações, a forma de trituração, diluição e administração, assim como possibilidade de interação com a dieta(30).

A instalação e o uso de estomias de alimentação pode suscitar uma série de complicações como dor, hemorragia, dermatite, peritonite, lesões cutâneas, perda acidental do dispositivo, infecção periestomal, vazamento da  dieta ao  redor  da  sonda, entre outras, podendo ocorrer desde o pós-operatório imediato para instalação do estoma, como após seu uso, já no domicílio do indivíduo (27,31). A preocupação com prevenção (2,3,13–16,21,26,27,29,30), identificação precoce e tratamento (19,23,26) das complicações foi identificada neste estudo de forma bem expressiva. A inspeção da pele, do dispositivo e das condições do paciente (15,22,24) deve ser uma rotina para a família e para o profissional, em todos os momentos de cuidado.

Além dos cuidados diretos com o dispositivo e alimentação, outros sinais e sintomas podem identificar os problemas na administração da terapia enteral (17,24,26,29), por isso a importância em um olhar humanizado e abrangente. Cuidados gerais com o paciente como eliminações, aceitação da dieta, queixas gastrointestinais e estado nutricional fornecem sinais sobre o sucesso da terapia. A tolerância à dieta ofertada via enteral pode ser manifestada através de sintomas gastrointestinais como constipação intestinal, diarreia, náuseas, vômitos, dor no estômago, infecções, hiperglicemia/hipoglicemia.

Por o estoma ser a exteriorização de um órgão, cuidar da pele periestomal é fundamental para evitar complicações (2,3,13,17,19,22,24,26–30). Inflamação, dermatite ou úlceras podem ser causadas pelo material utilizado ou até mesmo pelo mau uso, ou ainda associadas a fatores químicos, mecânicos, infecciosos ou sistêmicos. A observação atenta dos sinais e sintomas relativos às alterações é fundamental para detecção da origem do problema, assim como para encaminhar a solução, que, frequentemente, demanda a avaliação de um profissional de saúde. Mais uma vez, destaca-se a relevância do conhecimento do tema para se ter uma conduta assertiva (31).

Muitos estudos abordam sobre a construção de materiais educacionais para familiares de crianças com estomas de alimentação(12–14,19,20,24,28,30), porém observou-se uma lacuna no que diz respeito aos cuidados de adultos neste mesmo contexto. Crianças que necessitam de estomia possuem suas singularidades no cuidado, manejo e diferença social e emocional entre criança e família, necessitando de diferentes abordagens no cuidado, mas adultos também demandam de cuidados.

Inicialmente como enfermeiro, é indispensável entender o contexto daquela família, seus sofrimentos e angústias, a partir disso, reorganiza-se o núcleo familiar conforme sua singularidade, a fim de, redistribuir as cargas emocionais naquele contexto.Da mesma forma, a adaptação da rotina familiar relacionada ao cuidado do paciente adulto que demanda dispositivo para auxiliar na alimentação/nutrição é pauta que carece de maior aprofundamento.

CONCLUSÃO

Nesta revisão, os cuidados de enfermagem ao paciente com estomia de alimentação e hidratação envolveram questões importantes como o pré-operatório, com o dispositivo, com dieta e medicação, com o estoma e pele, com às complicações, com a educação em saúde, com o paciente integralmente envolvendo questões físicas, psicoemocionais e sociais, além do autocuidado, independência, adesão aos tratamentos e ainda,  aspectos relacionados às equipes de saúde.

Frente à complexidade da situação entende-se que o enfermeiro possui uma série de cuidados, o que deve ser organizado de forma organizada e em conjunto, visto que o uso de uma ostomia afeta tanto o indivíduo quanto sua família. Um cuidado eficaz, auxiliará tanto na prevenção de complicações quanto na manutenção ou melhoria da qualidade de vida, trazendo reflexos positivos  e minimizando possíveis impactos negativos gerados pelo uso de um dispositivo como uma estomia de alimentação e hidratação.

Possuir conhecimento acurado, atualizado e baseado em evidência é crucial para a boa atuação do enfermeiro, que junto a uma equipe multidisciplinar, propiciará um cuidado seguro e efetivo às pessoas que necessitem de tal terapia. Assim, esse artigo é capaz de fornecer importantes subsídios científicos relacionados à temática contribuindo para a prática do enfermeiro e para a qualificação do cuidado.

REFERÊNCIAS

1.        SOBEST - Associacao Brasileira de Estomaterapia: Estomias F e I. Estomias [Internet]. [citado 14 de dezembro de 2023]. Disponível em: https://sobest.com.br/estomias/

2.        Friginal-Ruiz AB, Lucendo AJ. Percutaneous endoscopic gastrostomy. Gastroenterology Nursing [Internet]. 2015 [citado 14 de dezembro de 2023];38(5):354–66. Disponível em: https://www.ingentaconnect.com/content/wk/sga/2015/00000038/00000005/art00005

3.        Anderson L. Enteral feeding tubes: an overview of nursing care. British Journal of Nursing [Internet]. 27 de junho de 2019 [citado 14 de dezembro de 2023];28(12):748–54. Disponível em: http://www.magonlinelibrary.com/doi/10.12968/bjon.2019.28.12.748

4.        Souza ATG de, Soares SSS, Souza NVD de O, Costa CCP da, Pereira SRM, Carvalho EC. Complicações e cuidados de enfermagem relacionados à gastrostomia. Revista Enfermagem Atual In Derme. 20 de julho de 2021;95(35).

5.        Faria FL de, Labre MM, Sousa IF de, Almeida RJ de. Avaliação da qualidade de vida em pacientes com estomia intestinal. Arch Health Sci (Online) [Internet]. 20 de julho de 2018 [citado 14 de dezembro de 2023];25(2):8–14. Disponível em: http://www.cienciasdasaude.famerp.br/index.php/racs/article/view/924

6.        Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Especializada em Saúde. Departamento de Atenção Especializada e. Guia de atenção à saúde da pessoa com estomia [Internet]. Ministério da Saúde, organizador. Brasilia: Ministério da Saúde; 2021 [citado 14 de dezembro de 2023]. 64–64 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_atencao_saude_pessoa_estomia.pdf

7.        Silva TP, Ribeiro CRG, Resck ZMR, Fava SMCL, Dázio EMR, Revisão A DE. Cuidado de enfermagem à pessoa com gastrostomia: revisão integrativa. scholar.archive.orgTP da Silva, CRG Ribeiro, ZMR Resck, SMCL Fava, EMR DázioBraz J Enterostomal Ther, 2018•scholar.archive.org [Internet]. 2018 [citado 14 de dezembro de 2023];16. Disponível em: https://scholar.archive.org/work/shn5bnszgbfp7mfx43dqvmcxly/access/wayback/https://www.revistaestima.com.br/estima/article/download/374/pdf_1/1205

8.        Paula CC, Padoin SM de M, Galvão CM. Revisão integrativa como ferramenta para tomada de decisão na prática em saúde. Vol. I. Porto Alegre: Moriá Editora; 2018. 52–76 p.

9.        Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo) [Internet]. março de 2010 [citado 4 de março de 2024];8(1):102–6. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eins/a/ZQTBkVJZqcWrTT34cXLjtBx/?lang=pt

10.        Santos CMDC, Pimenta CADM, Nobre MRC. The PICO strategy for the research question construction and evidence search. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. junho de 2007 [citado 24 de julho de 2020];15(3):508–11. Disponível em: www.eerp.usp.br/rlae

11.        Page M, McKenzie J, Bossuyt P, … IBI journal of, 2021 undefined. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. Elsevier [Internet]. [citado 15 de dezembro de 2023]; Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1743919121000406

12.        Cunningham S, Best C. Guidelines for routine gastrostomy tube replacement in children. Nurs Child Young People. 2013;25(10):22–5.

13.        Hannah E, John RM arie. Everything the nurse practitioner should know about pediatric feeding tubes. J Am Assoc Nurse Pract [Internet]. 1o de novembro de 2013 [citado 12 de fevereiro de 2024];25(11):567–77. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/2327-6924.12075

14.        Lee J, Spratling R. Care of gastrostomy feeding tube in children with developmental disabilities. Rehabilitation Nursing. 1o de setembro de 2014;39(5):221–4.

15.        Rahnemai-Azar AA, Rahnemaiazar AA, Naghshizadian R, Kurtz A, Farkas DT. Percutaneous endoscopic gastrostomy: Indications, technique, complications and management. World Journal of Gastroenterology : WJG [Internet]. 6 de junho de 2014 [citado 3 de março de 2024];20(24):7739. Disponível em: /pmc/articles/PMC4069302/

16.        Metussin A, Sia R, Bakar S, Chong VH. Foley Catheters as Temporary Gastrostomy Tubes. Gastroenterology Nursing [Internet]. julho de 2016 [citado 12 de fevereiro de 2024];39(4):273–7. Disponível em: https://journals.lww.com/00001610-201607000-00003

17.        Nascimento NG, Borges EL, Donoso VTM. Assistência de enfermagem a pacientes gastrostomizados baseada em evidências. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro [Internet]. 21 de janeiro de 2016 [citado 14 de dezembro de 2023];5(3):1885–97. Disponível em: http://www.seer.ufsj.edu.br/recom/article/view/743

18.        Roveron G, Antonini M, Barbierato M, Calandrino V, Canese G, Chiurazzi LF, et al. Clinical practice guidelines for the nursing management of percutaneous endoscopic gastrostomy and jejunostomy (PEG/PEJ) in adult patients: An executive summary. Journal of Wound, Ostomy and Continence Nursing [Internet]. 1o de julho de 2018 [citado 12 de fevereiro de 2024];45(4):326–34. Disponível em: https://journals.lww.com/jwocnonline/fulltext/2018/07000/clinical_practice_guidelines_for_the_nursing.7.aspx

19.        Lima PS de, Blanes L, Ferreira LM, Gomes HF de C. CHILD CARE EDUCATIONAL MANUAL WITH GASTROSTOMY: CONSTRUCTION AND VALIDATION. Reme Revista Mineira de Enfermagem [Internet]. 2018 [citado 14 de dezembro de 2023];22:1123. Disponível em: http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/1415-2762.20180068

20.        Townley A, Wincentak J, Krog K, Schippke J, Kingsnorth S. Paediatric gastrostomy stoma complications and treatments: A rapid scoping review. J Clin Nurs [Internet]. 1o de abril de 2018 [citado 12 de fevereiro de 2024];27(7–8):1369–80. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jocn.14233

21.        Silva TP, Ribeiro CRG, Resck ZMR, Fava SMCL, Dázio EMR. Nursing care for the person with gastrostomy: integrative review. Estima [Internet]. 2018 [citado 3 de março de 2024];16:e0718. Disponível em: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/374/pdf

22.        Silva LFO. Protocolo de cuidados em gastrostomia endoscópica percutânea: uma abordagem multiprofissional. [Internet] [Dissertação]. [Salvador]: Universidade Federal da Bahi; 2020 [citado 3 de março de 2024]. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/32233

23.        McLaren S, Arbuckle C. Providing optimal nursing care for patients undergoing enteral feeding. Nurs Stand. 28 de fevereiro de 2020;35(3):60–5.

24.        Rodrigues L do N, Santos A da S, Gomes PP de S, da Silva WCP, Camelo Chaves EM. Construction and validation of an educational booklet on care for children with gastrostomy. Rev Bras Enferm [Internet]. 22 de abril de 2020 [citado 12 de fevereiro de 2024];73(3):e20190108. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/hbbFTwjqwWhVJXVqmpvcyGk/

25.        García-Roselló E, Andreu-Gómez D, López-Mas Valero R, Lozano-Francés J. Recambio de sonda de gastrostomía endoscópica percutánea en atención domiciliaria. Hospital a Domicilio [Internet]. 30 de julho de 2021 [citado 14 de dezembro de 2023];5(3):167–71. Disponível em: https://www.revistahad.eu/index.php/revistahad/article/view/135

26.        Alsunaid S, Holden VK, Kohli A, Diaz J, O’Meara LB. Wound care management: Tracheostomy and gastrostomy. J Thorac Dis. 1o de agosto de 2021;13(8):5297–313.

27.        Souza A, Soares S, Souza NVDO, Costa CCP, Pereira SRM, Carvalho EC. Complicações e cuidados de enfermagem relacionados à gastrostomia. Revista Enfermagem Atual In Derme [Internet]. 2021 [citado 3 de março de 2024];95(35):e–021101. Disponível em: https://teste.revistaenfermagematual.com/index.php/revista/article/view/1004/944

28.        Farou N, Lucas C, Olympia RP. School Nurses on the Front Lines of Healthcare: Children With Medical Devices—A “BOLUS” of Information About Gastrostomy Tube Malfunctions and Infections. NASN School Nurse [Internet]. 26 de abril de 2021 [citado 12 de fevereiro de 2024];36(3):144–8. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1942602X20940026

29.        Mesquita L, Correa DF, Oliveira ES, Louza LGS, Chagas LAG, Silva VD, et al. Diagnósticos e intervenções de enfermagem em indivíduos com gastrostomia domiciliar: Uma revisão integrativa. Revista Saúde Coletiva [Internet]. 2023 [citado 3 de março de 2024];13(85):12640–59. Disponível em: https://revistasaudecoletiva.com.br/index.php/saudecoletiva/article/view/2998

30.        Jesus MN, Siqueira SMC, Fernandes LJ, Ferreira DC da C, Jesus VS de, Camargo CL. Preparo dos pais para a desospitalização de crianças em uso de traqueostomia e gastrostomia. Ciência, Cuidado e Saúde [Internet]. 2023 [citado 14 de dezembro de 2023];220. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/58610