O QUE É A ECOLALIA PARA O AUTISMO SEGUNDO A LITERATURA?
O QUE É A ECOLALIA PARA O AUTISMO SEGUNDO A LITERATURA?
WHAT IS ECHOLALIA IN AUTISM ACCORDING TO THE LITERATURE?
QUÉ ES LA ECOLALIA EN EL AUTISMO SEGÚN LA LITERATURA?
AUTORES
Rosânia Delfino dos Santos - Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Paulista (UNIP) campus Brasília. Brasília, Distrito Federal, Brasil Orcid: https://orcid.org/0009-0005-4000-0624.
Mariana Islene Caetano de Carvalho - Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Paulista (UNIP) campus Brasília. Brasília, Distrito Federal, Brasil.com, Orcid: https://orcid.org/0009-0009-7614-1364
Francidalma Soares Sousa Carvalho Filha - Doutora em Saúde Pública. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Balsas, Maranhão, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5197-4671
Iel Marciano de Moraes Filho - Mestre em Ciências Ambientais e Saúde. Universidade Paulista (UNIP) campus Brasília. Brasília, Distrito federal, Brasil, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0798-3949.
RESUMO
Objetivo: Descrever, segundo a literatura, a relação entre o Transtorno do Espectro Autista e a ecolalia. Método: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura científica na BVS, PubMed e Scielo, utilizando os descritores DECS/MESH "Transtorno do Espectro Autista AND ecolalia" e "Autism Spectrum Disorder AND Echolalia" combinados pelo operador booleano "AND". Resultados: Predominaram estudos qualitativos (35,7%) com baixo nível de evidência (92,8%). A maioria das pesquisas (78,6%) foi conduzida nos Estados Unidos da América em 2021, com participantes de 1 a 40 anos, sendo a ecolalia frequentemente observada em crianças de 2 anos (28,6%). A abordagem ao tratamento da ecolalia foi mencionada em apenas 21,4% dos estudos, destacando métodos comportamentais. Conclusão: A ecolalia, fenômeno persistente no TEA, é uma notável peculiaridade na comunicação verbal, apresentando variações imediatas, tardias e mitigadas. Suas implicações continuam a desafiar o desenvolvimento e as intervenções clínicas.
DESCRITORES: Transtorno do Espectro Autista; Ecolalia; Barreiras de Comunicação; Crescimento e desenvolvimento; Comportamento Estereotipado.
ABSTRACT
Objective: To describe, based on the literature, the relationship between Autism Spectrum Disorder and echolalia. Method: An integrative review of scientific literature was conducted using BVS, PubMed, and Scielo databases, employing the DECS/MESH descriptors "Autism Spectrum Disorder AND echolalia" and "Autism Spectrum Disorder AND Echolalia" combined with the Boolean operator "AND." Results: Qualitative studies predominated (35.7%) with low levels of evidence (92.8%). The majority of research (78.6%) was conducted in the United States in 2021, involving participants aged 1 to 40, with echolalia frequently observed in 2-year-old children (28.6%). The approach to echolalia treatment was mentioned in only 21.4% of the studies, emphasizing behavioral methods. Conclusion: Echolalia, a persistent phenomenon in Autism Spectrum Disorder, represents a notable peculiarity in verbal communication, exhibiting immediate, delayed, and mitigated variations. Its implications continue to challenge development and clinical interventions.
KEYWORDS: Autism Spectrum Disorder; Echolalia; Communication Barriers; Growth and Development; Stereotyped Behavior.
RESUMEN
Objetivo: Describir, según la literatura, la relación entre el Trastorno del Espectro Autista y la ecolalia. Método: Se realizó una revisión integrativa de la literatura científica en las bases de datos BVS, PubMed y Scielo, utilizando los descriptores DECS/MESH "Trastorno del Espectro Autista AND ecolalia" y "Autism Spectrum Disorder AND Echolalia" combinados con el operador booleano "AND". Resultados: Predominaron los estudios cualitativos (35,7%) con un bajo nivel de evidencia (92,8%). La mayoría de las investigaciones (78,6%) se llevaron a cabo en Estados Unidos en 2021, con participantes de 1 a 40 años, siendo la ecolalia observada con frecuencia en niños de 2 años (28,6%). El enfoque para el tratamiento de la ecolalia se mencionó solo en el 21,4% de los estudios, destacando métodos conductuales. Conclusión: La ecolalia, un fenómeno persistente en el Trastorno del Espectro Autista, representa una notable peculiaridad en la comunicación verbal, mostrando variaciones inmediatas, tardías y mitigadas. Sus implicaciones siguen desafiando el desarrollo y las intervenciones clínicas.
PALABRAS CLAVES: Trastorno del Espectro Autista; Ecolalia; Barreras de Comunicación; Crecimiento y Desarrollo; Conducta Estereotipada.
Tipo de artigo: Revisão integrativa
Recebido: 19/10/2023 Aprovado: 17/11/2023
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) caracteriza-se pela presença de dificuldades na comunicação, interações sociais recíprocas prejudicadas e padrões comportamentais restritos e repetitivos(1). É reconhecido também como um distúrbio neurodesenvolvimental pela quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5)(2), sendo mais frequente em indivíduos do sexo masculino(3).
Além disso, o TEA afeta entre 1% a 2% da população global e aproximadamente dois milhões de pessoas no Brasil. De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, a estimativa gira em torno de uma a cada 44 crianças. Ademais é importante ressaltar que, embora seja amplamente estudado, o transtorno ainda não é completamente entendido e de complexo diagnóstico(4).
Os sinais que sugerem a presença do TEA geralmente se manifestam nos primeiros anos de vida e estão associados a atrasos ou desenvolvimento atípico na linguagem e na interação social. O diagnóstico diferencial do TEA só é definitivo após os três anos de idade, sendo um processo complexo devido aos sintomas compartilhados e às variações individuais de cada indivíduo(1). Portanto, a terminologia "espectro" é usada para destacar a diversidade de apresentações do transtorno(5).
No universo dos sinais, apresenta-se a ecolalia, que se caracteriza como um distúrbio do desenvolvimento de linguagem, no qual persiste a repetição de eco na fala do outro, diferente da palilalia que é a repetição da própria fala emitida(6). Embora a ecolalia seja uma prática também de crianças neurotípicas que estão no início de sua infância no período de suas primeiras palavras, no TEA, é algo predominante em sua fala.
Neste contexto, foi descrita pela primeira vez em comportamentos verbais e não verbais (ecopraxia) por Itard em (1825)(7), refinada por Pick (1924) e logo depois usado por Kanner (1943) para descrever a tendência de crianças autistas em repetir frases, em vez de responder quando uma pergunta é feita ou uma sugestão verbal é fornecida(8,9).
Logo, esta altercação é munida de várias funções linguísticas, incluindo a comunicação, a compensação e a autoestimulação. Ademais, ela pode ser usada como uma forma de comunicação funcional para indivíduos com capacidades linguísticas limitadas. No entanto, em certos contextos, a ecolalia pode impactar negativamente na qualidade de vida, influenciando a aceitação social, oportunidades profissionais e independência das pessoas no espectro(10).
Portanto, a ecolalia que anteriormente era vista como não comunicativa, agora é reconhecida como tendo natureza funcional, permitindo a transmissão de decisões, emoções e a resposta a perguntas. Diante dessa complexidade, questiona-se: “O que é a ecolalia para o autismo?”. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo descrever, perante a literatura, a relação entre o Transtorno do Espectro Autista e a ecolalia.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica sobre a relação do TEA com a ecolalia. A revisão integrativa é um estudo que se dá a partir da análise de pesquisas relevantes de fontes secundárias por meio de levantamento bibliográfico que reúne conhecimentos sobre o fenômeno a ser investigado. Constitui uma técnica de pesquisa com rigor metodológico, criteriosa e conscienciosa, que aumenta a credibilidade e a profundidade de conclusões que podem contribuir para a reflexão sobre a realização de futuros estudos, desta forma contribuindo também para a tomada de decisão que busque melhorar as evidências recentes(11).
Neste estudo, optou-se por pesquisar em bases de dados de ampla divulgação científica no meio nacional e internacional, sendo utilizadas a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a United State National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e o Portal de Periódicos da Capes. Na busca digital dos artigos científicos indexados nas bases de dados supracitadas, utilizaram-se os seguintes descritores controlados: dos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e do Medical Subject Headings (Mesh) - “Transtorno do Espectro do Autismo AND ecolalia” e “Autism Spectrum Disorde AND Ecolalia” combinados pelo operador booleano “AND” conforme o quadro 1.
Quadro 1 - Estratégias de busca aplicados nas bases de dados, Brasília, Distrito Federal, Brasil, 2023.
Base de dados |
Estratégias de busca |
BVS |
Transtorno do Espectro Autista AND Ecolalia |
Scielo |
|
Portal de Periódicos da Capes |
|
PubMed |
Autism Spectrum Disorder AND Echolali |
Fonte: Autoria própria, 2023.
A coleta de dados foi realizada no mês de abril de 2023. Foram aplicados como filtros dentro das bases e como critérios de elegibilidade o idioma (textos publicados em português, inglês e espanhol), e sua disponibilidade integral. Não estabelecemos um recorte temporal para revisão devido à escassez de literatura sobre o tema.
Optou-se por uma abordagem ampla e exploratória para entender a evolução da temática ao longo do tempo. Essa escolha nos permite incluir uma variedade de estudos publicados, proporcionando uma visão completa do assunto. Logo após a seleção de títulos e resumos, foram incluídos estudos que responderam e atenderam ao objetivo da pesquisa e foram excluídas matérias de literatura cinzenta.
Na busca inicial nas plataformas supracitadas contava-se com um total de 161 artigos, destes 39 foram excluídos por não estarem em consonância com o critério de inclusão. Além disso, 3 se repetiram entre as plataformas e 14 compuseram a amostra final conforme o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (Prisma)(12) representado na figura 1:
Figura 1 - Fluxograma de busca e seleção dos estudos de acordo com PRISMA. Brasília, Distrito Federal, Brasil, 2023.
Após a leitura completa dos artigos, foi organizada a amostra final dos estudos. Foram também extraídas informações para composição do quadro sinóptico, sendo então os artigos apresentados por meio das seguintes variáveis: autores, título, tipo de ecolalia, ano de publicação, base, nível de evidência segundo o método Grade(13): método, país, idade dos pesquisados e tratamento.
RESULTADOS
No quadro 1, observa-se o predomínio de estudos com abordagem qualitativa (n=5) 35,7%, indexados na Pubmed (n=11) 78,6%. Seu nível de evidência segundo o método grade é muito baixo (n=13) 92,8%, com maior número de publicações no ano de 2021 (n=5) 35,7%, realizados nos Estados Unidos da América (EUA) (n=9) 64,3%. A idade dos pesquisados nos estudos (n=14) 100% variou de 1 a 40 anos, com predomínio de avalições com 2 anos de idade em (n=4) estudos 28,6% e apenas (n=3) 21,4% apresentaram a abordagem ou o tratamento dispensados aos ecolálicos, que findaram em métodos comportamentais.
Quadro 1 - Quadro Sinóptico da amostra final segundo autores, título, ano de publicação, base de dados, periódico de publicação, nível de evidência segundo o método grade, método país de publicação e tratamento (n=15). Brasília, Distrito Federal, Brasil, 2023.
Fonte: Autoria própria, 2023.
DISCUSSÃO
A ecolalia é um elemento da fala da maioria das crianças com TEA, mas não necessariamente a criança que apresenta ecolalia possui o transtorno, já que a ecolalia, naturalmente, se faz presente ao decorrer do aprendizado da fala na primeira infância, mas, na alteração patológica, a ecolalia é contínua e persistente(3).
A repetição também é observada em crianças surdas com TEA, uma vez que ecoam sinais, assim como crianças ouvintes com TEA ecoam palavras, sendo que crianças surdas e ouvintes o fazem em estágios semelhantes do desenvolvimento linguístico, quando a compreensão é relativamente baixa (3).
Em relação aos tipos de ecolalia, as pesquisas as diferem em três tipos: imediata, na qual a emissão é feita segundos após a produção da fala do interlocutor; tardia, quando o eco é produzido em minutos, horas, dias, semanas ou meses após a fala do interlocutor, sendo uma característica prolongada e constante na fala da criança com TEA(3); e mitigada, que consiste na repetição alterada, da fala original do locutor. Por exemplo: o pronome muda: “Você quer água?” e a pessoa no TEA pronuncia “Quer água?”(14). Assim, sistematiza-se o quadro 2.
Quadro 2 - Tipos de ecolalia e suas principais características. Brasília, Distrito Federal, Brasil, 2023.
Fonte: Autoria própria, 2023.
Neste espectro, na tabela 1 apresentam-se os tipos de ecolalia citados em 8 dos 14 artigos pesquisados, de forma que as pesquisas, em sua maioria, diferem a ecolalia em apenas duas formas (imediata e tardia).
Tabela 1 - Tipos de ecolalia e em qual referência foi citado. Brasília, Distrito Federal, Brasil, 2023.
Fonte: Autoria própria, 2023.
A literatura traz convergências e divergências em relação à funcionalidade da ecolalia, em que alguns autores a defendem de forma benéfica, funcional e comunicativa, tangendo funções linguísticas que vão desde comunicativas, compensatórias ou autoestimulatórias(3,514-25), que são percebidas como ganho na comunicação.
Logo, as funções linguísticas podem representar o elo da linguagem “mais fácil” de ser interpretado por pessoas com dificuldades de linguagem autogerada. Olhando pelo prisma de Prizant e Rydell em 1984, a ecolalia pode ser compreendida como “uma maneira de escuta, interação e reciprocidade, para afirmar ou enfatizar a experiência do ecolálico com outra pessoa”(14).
Neste sentido, também pode ser vista como uma rica oportunidade para um início de vocabulário uma fala adaptativa no desenvolvimento da comunicação verbal, facilitando a aquisição de palavras e proporcionando maior generalização semântica(18).
Por outro lado, alguns autores (7,22) a veem como sem sentido e automática. Assim entendem que os malefícios giram em torno da alteração patológica propriamente dita, acreditando que a repetição é maléfica pois as palavras não são usadas de maneira apropriada, características comuns em muitas crianças autistas. Dessa forma, é vista como um obstáculo que traz desvantagens ao desenvolvimento típico da fala e da comunicação.
O fato é que a ecolalia muitas vezes interrompe a programação educacional e interfere nos repertórios de linguagem semântica dos alunos, podendo trazer comportamentos desafiadores tanto para a pessoa que a utiliza quanto para o ouvinte(15).
Ainda o DSM-5(2) define a ecolalia como uma repetição (eco)patológica, aparentemente sem significado comunicativo e classifica essa condição entre os comportamentos restritos e repetitivos do TEA(18).
É preciso ressaltar que pessoas no TEA são mais sensíveis ao som, e quando há presença de sons altos que sejam relacionados à estereotipia, elas tendem a levar às mãos aos ouvidos em face à exposição(5). Desta forma, isto pode influenciar a repetição de palavras, ocasionando os comportamentos restritos e repetitivos(18).
Outrossim, a grande incidência de pessoas no TEA pode ser explicada devido a apresentarem dificuldade em diferenciar tons na fala, iniciar e manter diálogos, ineficiência interpretativa de palavras e frases, compreensão de ironias, sarcasmos e dualidades, sentimentos de preocupação dos interlocutores, assim como outras formas explícitas ou implícitas de linguagem(5).
No que tange ao tratamento, devem ser indicados somente nos casos em que atrapalham a vida das pessoas que a utilizam, devendo ser avaliado o custo-benefício da terapia, bem como o quanto a ecolalia prejudica o funcionamento da pessoa(14).
Ademais, algumas abordagens comportamentais e farmacológicas são possíveis. Referente às abordagens comportamentais, estas concernem no acompanhamento instrutivo e incentivador ou na remodelação da fala da pessoa que utiliza a ecolalia. Para isso, precisa-se instrumentalizar estratégias comportamentais implicadas, modelagem comportamental, reforço positivo, treinamento de roteiro, interrupção de resposta e ignorar o planejado(14).
A exemplo, cita-se o Método do Paradigma da Linguagem Natural (PLN) que, dentre as abordagens comportamentais, se destaca como uma técnica empregada para aprimorar a comunicação e a interação social em indivíduos com TEA. O PLN envolve a implementação de um procedimento em um ambiente lúdico, repleto de brinquedos variados. Esta abordagem reconhece a importância de configurar o ambiente de forma a potencializar as oportunidades de utilização da linguagem(21).
Os resultados obtidos com o PLN têm demonstrado eficácia, especialmente quando os pais desempenham um papel ativo, encorajando a fala por meio do modelamento de perguntas e respostas. Dessa maneira, a intervenção da PLN se mostra proveitosa ao capacitar os pais a aprenderem e empregarem essa abordagem no ambiente doméstico, promovendo uma continuidade no processo de desenvolvimento da linguagem(21). Assim, o estudo conduzido por Laski, Chmuuop e Schreibman em 1988 indicou que a PLN oferece uma estrutura adequada para que os pais e outras pessoas possam interagir de maneira construtiva com suas crianças. Ao proporcionar um contexto interativo e adaptado, esse método demonstrou ser uma ferramenta valiosa para incentivar a comunicação e a socialização das crianças com TEA, auxiliando-as a desenvolver habilidades linguísticas essenciais(21).
Quanto às abordagens farmacológicas, muitas vezes são consideradas como um método aparentemente mais eficaz. No entanto, é importante destacar que nenhuma intervenção foi reconhecida como "baseada em evidências" para o tratamento do autismo(8). Apesar disso, abordagens comportamentais tradicionais ainda oferecem parâmetros sólidos que demonstram resultados na redução da frequência, intensidade e impacto da ecolalia, pelo menos a curto prazo, inoportunizando o tratamento farmacológico(14).
Vale ressaltar que a intervenção farmacológica não deve ser a primeira opção de tratamento para todas as formas de ecolalia. Em um estudo de caso envolvendo um adulto com autismo, a administração de betabloqueadores resultou em uma redução significativa dos sintomas de ecolalia e gagueira durante o período de hospitalização. No entanto, é importante considerar que a ecolalia no contexto do autismo ainda não é completamente compreendida em termos de suas bases neurais, o que dificulta a investigação sobre como o cérebro funciona durante a sua manifestação(14).
Todavia, quando observamos por uma perspectiva de comunicação neurodiversa, que abrange indivíduos com padrões neurológicos diferentes do convencionalmente esperado pela sociedade, surge uma nova abordagem. Nessa ótica, questiona-se a necessidade de suprimir, eliminar ou remodelar a ecolalia, e em vez disso, enfatiza-se a importância de avaliar cuidadosamente os benefícios desta forma de comunicação na vida da pessoa, bem como das intervenções comportamentais utilizadas para sua extinção. Assim, é fundamental que as decisões de intervenção médica e de outros profissionais, como o fonoaudiólogo, sejam guiadas por uma consideração não apenas bioética, mas levando em conta a singularidade de cada caso(26, 27).
Nesse contexto, a atenção dos profissionais de saúde deve ser direcionada para a ecolalia que apresenta características mais marcantes, que têm impacto significativo na comunicação expressiva e receptiva, e que afeta negativamente a qualidade de vida da pessoa em questão. Em consonância com as ideias de McFayden, Kennison e Bowers (2022)(14), a abordagem terapêutica deve ser mais seletiva, concentrando-se na ecolalia que é considerada grave sob esses critérios.
É importante lembrar que cada indivíduo é único, e as intervenções devem ser moldadas de acordo com suas necessidades e particularidades. A análise de custo-benefício desempenha um papel crucial na tomada de decisão, pois nem sempre a redução da ecolalia resultará em uma melhora significativa na qualidade de vida. Dessa forma, a abordagem terapêutica deve ser guiada por uma compreensão profunda do contexto e das necessidades do paciente, promovendo uma melhoria genuína na sua qualidade de vida e bem-estar comunicativo.
Logo, no que se refere aos estudos encontrados, a maioria adotou uma abordagem qualitativa (35,7%), destacando a ênfase na compreensão aprofundada do fenômeno em questão(28) Além disso, 78,6% foram indexados na base de dados Pubmed, sugerindo sua ampla visibilidade na comunidade científica. No entanto, é importante notar que a maioria dos estudos (92,8%) apresentou um nível de evidência muito baixo, indicando que muitos deles se basearam em observações e pesquisas exploratórias e revisões narrativa da literatura(14).
O ano de 2021 registrou o maior número de publicações (35,7%), possivelmente refletindo um crescente interesse na área de estudo. A localização predominante dos estudos foi nos EUA (64,3%), possivelmente devido à alta prevalência da doença na população, pois um estudo publicado em 2023 pelo CDC demostrou que 1 em cada 36 crianças de 8 anos é autista no país, o que significa 2,8% daquela população(4).
Quanto à idade dos participantes, todos os estudos (100%) incluíram indivíduos com idades variando de 1 a 40 anos, com um foco notável em crianças de 2 anos (28,6%) lembrando que a imitação e a repetição da fala fazem parte do desenvolvimento típico da linguagem nos primeiros anos de vida, mas melhora ao longo dos 2 primeiros anos. Logo, a autorregulação da fala e da linguagem se desenvolve por volta dos 3 anos de idade em crianças neurotípicas, sendo que a ecolalia patológica é aquela que persiste além dessa idade(5).
Surpreendentemente, apenas uma pequena parcela dos estudos (21,4%) abordou estratégias de tratamento, principalmente com métodos comportamentais. Isto ocorre, pois o tratamento depende da etiologia. Logo o manejo da ecolalia relacionada ao autismo requer a participação de uma equipe multidisciplinar, incluindo especialistas em neurodesenvolvimento, terapeutas, psicólogos, educadores especiais e ainda, os pais e/ou outros cuidadores (29)..
Assim, a chave para o controle é saber o real motivo da repetição da fala, o significado por trás da repetição e responder de maneira a ajudar a pessoa que a utiliza a aprender a se comunicar de maneira mais efetiva. Para isto, é fundamental observar, ouvir e esperar durante a interação e conversa, a fim de reunir mensagens por trás da fala ecolálica(29).
Por fim, esses achados fornecem uma visão geral dos estudos analisados, destacando a necessidade de pesquisas mais rigorosas e uma análise mais profunda da literatura sobre a importância da ecolalia na vida da pessoa com TEA. Outrossim, é crucial reconhecer que o baixo nível de evidência em muitos estudos pode limitar a generalização de suas descobertas.
CONCLUSÃO
Após revisar a literatura, torna-se evidente que os achados fornecem uma visão abrangente da ecolalia no TEA, destacando a urgência de investigações mais rigorosas e uma análise aprofundada da literatura relacionada à temática. Conforme mencionado, é fundamental reconhecer que, em geral, os estudos apresentaram um nível de evidência baixo, o que compromete a capacidade de generalizar suas descobertas.
No entanto, é importante ressaltar que a ecolalia é uma característica notável na comunicação verbal de indivíduos com TEA, representando um fenômeno persistente que se manifesta como um distúrbio da linguagem. Embora seja também observada em crianças em desenvolvimento que estão aprendendo a falar e que geralmente a supera à medida que ganham compreensão verbal. Portanto, a ecolalia é uma característica intrínseca dos indivíduos com TEA, desempenhando um papel distintivo em seu modo de se comunicar.
Além disso, os estudos a categorizam em três tipos: imediata, tardia e mitigada. Portanto, as abordagens terapêuticas devem ser fundamentadas em uma compreensão profunda do contexto e das necessidades individuais dos pacientes e o tipo de ecolalia em questão, visando uma melhoria em sua qualidade de vida e habilidades comunicativas. Logo, é crucial evitar silenciar a voz daqueles que muitas vezes enfrentam dificuldades em se expressar fora do espectro autista.
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