A RELEVÂNCIA DA DISCIPLINA PRESENCIAL DE LIBRAS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
A RELEVÂNCIA DA DISCIPLINA PRESENCIAL DE LIBRAS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
THE IMPORTANCE OF AN IN-PERSON LIBRAS COURSE TO THE UNDERGRADUATE NURSING PROGRAM
LA RELEVANCIA DE LA DISCIPLINA PRESENCIAL DE LIBRAS EN LA CURSO DE PREGRADO EN ENFERMERÍA
AUTORES
Plínio de Paula Simões Filho, Formado em Pedagogia e História, com especialização em Educação Especial, Lato Sensu. Tenho prolibras, e há mais de quinze anos com fluencia em língua de sinais. Professor da Faculdade Santa Marcelina desde 2017. https://orcid.org/0009-0001-9564-9915
João Gregório Neto, Mestre em Ciências da Saúde. Especialista em Educação, Saúde Coletiva e Bioética. Enfermeiro. Professor da Faculdade Santa Marcelina. https://orcid.org/0009-0003-8717-749X.
Renato Ohara, Graduado em Enfermagem com mestrado pela escola de enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP - USP), é docente e atualmente coordena o curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina/SP. https://orcid.org/0009-0000-8655-1302.
RESUMO
O trabalho teve como objetivo identificar a relevância atribuída pelos alunos do curso de Graduação em Enfermagem ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais, de forma presencial, caracterizando os aspectos positivos e negativos das estratégias de ensino e mensurar a percepção dos alunos em relação aos princípios de inclusão social. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, de recorte retrospectivo com abordagem quantitativa, escolhermos a escala Likert como instrumento da pesquisa. Analisamos que os alunos, a partir do conhecimento teórico e prático refletem sobre a importância do ensino da língua de sinais, como inclusão e acessibilidade durante o curso de Enfermagem e com impacto para a prática profissional. Concluímos que a pesquisa contribuirá para delinear metas e compreender a demanda do aprendizado da língua de sinais, para que possamos aplica-lo em outras formas de multiplicar esses aprendizados para demais áreas do conhecimento.
Descritores: Língua de Sinais; Enfermagem; Ensino; Inclusão.
SUMMARY
The aim of the work was to identify the relevance attributed by students of the Undergraduate Nursing course to learning Brazilian Sign Language, in person, characterizing the positive and negative aspects of teaching strategies and measuring students' perception in relation to the principles of social inclusion. This is an exploratory and descriptive research, with a retrospective approach and a quantitative approach. We chose the Likert scale as the research instrument. We analyzed that students, based on theoretical and practical knowledge, reflect on the importance of teaching sign language, such as inclusion and accessibility during the Nursing course and with an impact on professional practice. We conclude that the research will contribute to outlining goals and understanding the demand for learning sign language, so that we can apply it in other ways of multiplying this learning to other areas of knowledge.
DESCRIPTORS: Sign Language; Nursing; Teaching; Inclusion.
RESUMEN
El objetivo del trabajo fue identificar la relevancia atribuida por estudiantes de la carrera de Graduación en Enfermería al aprendizaje presencial de la Lengua de Signos Brasileña, caracterizando los aspectos positivos y negativos de las estrategias de enseñanza y midiendo la percepción de los estudiantes en relación a los principios de inclusión social. Se trata de una investigación exploratoria y descriptiva, con enfoque retrospectivo y enfoque cuantitativo. Se eligió como instrumento de investigación la escala Likert. Analizamos que los estudiantes, a partir de conocimientos teóricos y prácticos, reflexionan sobre la importancia de la enseñanza de la lengua de signos, como la inclusión y accesibilidad durante la carrera de Enfermería y con impacto en la práctica profesional. Concluimos que la investigación contribuirá a trazar objetivos y comprender la demanda de aprendizaje de la lengua de signos, de modo que podamos aplicarla en otras formas de multiplicar este aprendizaje a otras áreas del conocimiento.
DESCRIPTORES: Lenguaje de Señas; Enfermería; Enseñando; Inclusión.
Recebido:14/04/2024 Aprovado:29/07/2024
Tipo de artigo: Artigo Original
INTRODUÇÃO
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma disciplina obrigatória na Matriz Curricular do curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina da cidade de São Paulo desde o ano de 2018.
Ao longo dos anos em que a Libras passou a integrar o rol de disciplinas obrigatórias no curso de Enfermagem notou-se que muitos alunos nunca tiveram contato com pessoas surdas e sequer pensavam no aprendizado desta língua por não entenderem a necessidade.
Além de um breve histórico da Legislação da Libras, da retrospectiva história e da cultura sobre a comunidade surda trabalhados apenas na primeira aula, o foco da disciplina no curso é direcionar o estudo para a conversação em Libras ao longo do semestre letivo, utilizando os sinais. Durante as aulas cria-se um ambiente de imersão e, tudo é realizado em Libras, assim se ensina Língua de Sinais por meio da Língua de Sinais, sendo vedado o uso de recursos da língua oral, evitando um ensino bilingue (português falado e Libras).
O Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina teve início em 1999 inicialmente sua matriz curricular era anual e possuía 4 (quatro) anos de duração, ao longo dos anos o curso passou por mudanças visando a melhoria no aprendizado e a atualização dos conteúdos, atualmente a Matriz curricular do curso possui 4.800 (quatro mil e oitocentas) horas distribuídas em 10 (dez) períodos semestrais sendo que a disciplina de Libras é lecionada regularmente no 3º período de forma presencial e com carga horária de 40 (quarenta) horas. Como mencionado anteriormente muitos alunos relatam nunca ter tido contato prévio com pessoas surdas ou com a Língua de Sinais o que torna o ensino e o aprendizado na disciplina maiores.
Por se tratar de proposta inovadora, não no sentido da oferta da disciplina, que normalmente em outros cursos acontece de forma optativa, mas justamente por se tratar de uma disciplina obrigatória e presencial, assim como todas as outras disciplinas técnicas específicas no curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina, vislumbrou-se a necessidade de se pesquisar a relevância atribuída pelos alunos à esse tipo de aprendizado e à repercussão da disciplina na formação profissional dos futuros Enfermeiros para o atendimento da comunidade surda, buscando a compreensão do que tem funcionado do ponto de vista pedagógico com um viés de ensino de Libras como segunda língua para pessoas ouvintes, tendo como perguntas norteadoras: 1. O impacto da disciplina para os futuros enfermeiros?; e 2. Qual o impacto da disciplina de Libras no curso de enfermagem?
OBJETIVO
Identificar a relevância atribuída pelos alunos do curso de Graduação em Enfermagem ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais, de forma presencial, na formação profissional, caracterizando os aspectos positivos e negativos das estratégias de ensino empregadas na disciplina de Libras e mensurar a percepção dos alunos em relação aos princípios de inclusão social.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, de recorte retrospectivo com abordagem quantitativa.
A pesquisa com abordagem quantitativa caracteriza-se pela adoção de métodos dedutivos e busca a objetividade, a validade e a confiabilidade1.
Para o delineamento quantitativo escolhermos a escala Likert, pois é uma escala psicométrica utilizada em pesquisa quantitativa, já que pretende registrar o nível de concordância ou discordância com uma declaração dada.
A escala de Likert foi elaborada em 1932 por Rensis Likert, requer que os entrevistados indiquem seu grau de concordância ou discordância com declarações relativas a temática que está sendo estudada2.
A escala de Likert é uma das escalas confiáveis e populares, para tentar medir o conhecimento ou a percepção sobre um assunto, utilizando opções de resposta que variam de um extremo a outro, como concordo plenamente para discordo plenamente. Ao contrário de uma simples questão de resposta ‘sim ou não’, uma Escala de Likert permite descobrir níveis de opinião. Isso pode ser particularmente útil para temas ou assuntos sensíveis ou desafiadores3.
As principais vantagens da Escala de Likert em relação às outras2, são a simplicidade de construção e aplicação; o uso de afirmações, permitindo a inclusão de qualquer item que se verifique, empiricamente, ser coerente com o resultado final; e ainda, a amplitude de respostas permitidas apresenta informação mais precisa da opinião do respondente em relação a cada afirmação.
Os sujeitos da pesquisa foram os Discentes do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Santa Marcelina que já tinham cursado e aprovados na disciplina de Libras. Os discentes foram convidados a participar de forma voluntária e, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, responderam ao questionário impresso.
O instrumento da pesquisa foi um questionário elaborado por meio da Escala de Likert, compunha cinco pontos: concordo plenamente, concordo, não concordo e nem discordo, discordo plenamente e discordo. Assim, caracterizando uma escala do tipo de escala de razão (proporcional). O questionário foi estruturado em duas partes. A primeira parte visava caracterizar o sujeito e a segunda focava o processo ensino aprendizado da disciplina de Libras e a contribuição da disciplina de libras na atuação do profissional enfermeiro.
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Orientação à Pesquisa (COPEFASM) e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Santa Marcelina, com o nº 69974823.0.0000.8125, respeitando os aspectos éticos vigentes na Resolução nº 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde que versa sobre as pesquisas com seres humanos no Brasil.
Os autores também garantiram a preservação dos dados, da confidencialidade e do anonimato dos indivíduos pesquisados, conforme previsão na Resolução acima e na Lei nº 13.709/2018 que trata da proteção geral dos dados.
RESULTADOS
A partir da pesquisa conseguimos nos ater a informações factuais sobre a importância do ensino de Libras e quais impactos quantitativos obtivemos com a disciplina dentro do curso de enfermagem, servindo como modelo de trabalho, avaliando e reavaliando o legado, e reestruturando a partir das seguintes informações:
Gráfico 1- Categorização dos sujeitos por sexo.
Fonte: autores, 2024
Obtivemos um total de 268 respostas, sendo que 218 eram mulheres e 50 homens dentro do curso de enfermagem que, responderam nosso questionário.
Maior parte desse público tem a idade de 21 a 24 anos, sendo de 115 pessoas (42,9%); acima de 40 anos foi o menor público com 21 pessoas, (7,8%); os outros são 18 a 20 anos no total de 53 pessoas (19,8%); 25 a 30 anos com 42 pessoas (15,7%); 34 a 40 anos sendo de 37 pessoas (13,8%).
Dos alunos que escolheram participar da pesquisa voluntariamente, não aconteceram abstenções nas perguntas do questionário e todas foram devidamente respondidas. Entre elas a primeira afirmação sobre a importância da qualificação em Libras na grade curricular da graduação de enfermagem. Apenas dois alunos responderam a opção de não concordo, nem discordo.
Mesmos valores são encontrados na seguinte afirmação “O conhecimento em comunicação de Libras é um diferencial e deve ser um facilitador no atendimento da população surda” com 266 pessoas respondendo para concordo totalmente.
Outro questionamento importante do aspecto quantitativo diz respeito a afirmação “Considero que obrigatoriedade da disciplina de forma presencial no curso de graduação em Enfermagem é importante para o futuro enfermeiro, tendo 259 alunos escolhendo a opção concordo totalmente; 7 alunos concordam parcialmente e 1 discorda totalmente.
A partir dos aspectos qualitativos podemos observar as mudanças necessárias para a continuidade do ensino de Libras aos estudantes de enfermagem, e o caminho percorrido até o momento, e como melhorar e ressignificar junto as observações dos alunos. Por exemplo, na afirmação “considero que os conhecimentos adquiridos nas aulas de Libras serão suficientes para a realização do atendimento ao paciente surdo”. 126 (47%) concordam totalmente; já 108 parcialmente; 16 não concordam e nem discordam; 14 alunos discordam parcialmente e 4 discordam totalmente.
Os alunos concordam totalmente com “a obrigatoriedade da disciplina de forma presencial de graduação em enfermagem é importante para o futuro enfermeiro”, apenas 8 não escolheram essa opção ficando com 7 em concordo parcialmente e 1 discordo totalmente. Uma diferença impactante para o aprendizado da Libras e um importante contraponto com relação a atual legislação em que obrigatoriamente determina apenas os cursos superiores de Licenciatura e Fonoaudiologia. Como revela os resultados dessa questão, existe uma demanda também em outros cursos para o aprendizado da língua de sinais a fim de melhor atender a população surda.
Não obstante, na afirmação “considero que a carga horária da disciplina... é adequada para o aprendizado da Libras”, observamos que já não existe mais a, quase unanimidade das questões anteriores, salientando que se por um lado a disciplina de Libras é importante para o curso de enfermagem, por outro ainda precisa de ajustes, e ampliação, na medida que as respostas dessa pergunta se dialogam com a carga horária da disciplina, em que poderia ser maior na formação dos futuros enfermeiros. Uma vez, que 40 horas não é considera ideal para o aprendizado fluente da Libras.
Gráfico 2 - Quanto a carga horária de 40 horas da disciplina
Fonte: autores, 2024.
Em outras afirmações, as respostas obtiveram um número parecido: “O aprendizado em Libras é uma ferramenta que facilitará a inclusão e o atendimento humanizado do paciente surdo”, “considero que o aprendizado da Libras possibilitará o estabelecimento de vínculo com os pacientes surdos”, “A comunicação por meio da língua de sinais pode trazer benefícios tanto para o profissional como para o paciente surdo”, “considero que o estudo da Libras no curso de Enfermagem é importante para a minha formação profissional”, com a maioria do corpo discente escolhendo a opção de concordo totalmente (acima de 92%). Sintetizando dessa forma questões anteriores que mais do que ampliar o ensino de Libras nas instituições de ensino superior é também expandir, já que a demanda de pacientes surdos tende a crescer.
O preâmbulo que essas respostas nos trazem é importante para medir o impacto inicial que a inclusão de uma disciplina, pode dar aos alunos e ampliar a compreensão da necessidade, de um público que está cada vez mais ocupando lugares na cidade, e uma vez que o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) tem como prioridade atender a todos, assim como a lei da Libras garante o atendimento à pessoa surda, se faz necessário que mais instituições optem pela possibilidade de discutir, ensinar, e deixar que assuntos ligados às Pessoas com Deficiência façam não apenas parte da grades curriculares4, de forma presencial, como também parte da rotina, seja ampliando o espaço na acolhida alunos com Deficiência e transtornos, como também preparando os demais alunos para a inclusão que se faz necessária no mercado de trabalho e nas demais instâncias da vida social.
Acreditamos que são pesquisas como esta que dão respaldo na continuidade do trabalho como também ampliação dele, e seja um suporte e referência para que mais gente fale de Libras, discuta e opte pelo ensino e aprendizagem da língua dos surdos. A inclusão se dá não apenas pelos indivíduos acolhidos, mas sobretudo, também pelos temas debatidos nos diversos ambientes acadêmicos.
As respostas das pesquisas demonstram por si só, que os alunos, a partir do conhecimento teórico e prático, também de outras disciplinas na instituição, refletem sobre a importância de trazer esse tema para dentro do curso de Enfermagem, e que possamos pensar em estratégias para desdobrar esse aprendizado da libras, pois de certa forma, quarenta horas não é o suficiente, tal como qualquer outro idioma, e pensar em situações para os alunos continuem discutindo, pesquisando e elaborando pesquisas, artigos, ocupando o espaço universitário com liberdade.
DISCUSSÃO
Libras é a sigla para Língua Brasileira de Sinais, uma vez que existem muitas línguas de sinais ao redor do mundo. Inclusive no Brasil temos outra língua de sinais que é chamada de Urubu Kaapor. Darcy Ribeiro chegou a demonstrar contato com essa comunidade indígena do Maranhão em seu livro “Diários Índios”, relatava as duas viagens feitas a comunidade em 1949 e 1951. Vários surdos chegaram a interagir com Darcy5.
A instituição formalizada do ensino da Língua Brasileira de Sinais é recente, em decorrência da Lei Federal nº. 10.436/20029 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Embora, antes mesmo desta data, já existissem instituições relacionadas às comunidades surdas: Federação Nacional de Surdos (Feneis), Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic), Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que já ensinavam a Libras. Fora delas, o ensino da Língua dos surdos era senão restrito, desenvolvido de uma maneira informal, por meio de organizações, igrejas, entre outros espaços4.
Foi a Lei Federal nº. 10.436/2002 regulamentada pelo Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 200510, que proporcionou a formalização deste ensino, embora que restrito a alguns cursos, nas instituições de ensino superior, como meio de diminuir o atraso na inclusão da comunidade surda no nosso país.
Outra questão amalgamada e que diz respeito a formalização do ensino, embora existente na lei, de maneira explícita, para a obrigatoriedade do ensino, é que não há nenhuma diretriz que norteie a quantidade de horas, quais conteúdos e os critérios que as ementas deveriam ter; se seriam necessárias aulas práticas ou uma aula “teórica” (mais focada em aspectos culturais e históricos do que no ensino da Língua). Não obstante, a Feneis anos atrás, tenha se pronunciado sob a necessidade de discussão destas diretrizes a fim de nortear o ensino em um documento chamado Propostas para a elaboração de uma política de educação bilingue6.
Ao mesmo tempo em que uma série de universidades precisaram de adaptações nas grades e nos currículos para o ingresso da nova disciplina, novas demandas surgiram concomitantemente tais como: Qual deve ser a carga horária da disciplina? Quais estratégias de ensino adotar para o ensino em turmas grandes? Quais legados conteudistas a disciplina deverá deixar para os alunos? A disciplina será significativa para a formação do corpo discente após a graduação? O conteúdo corre o risco de se tornar obsoleto? 4
Passados 20 anos da publicação da lei, ainda temos uma realidade não muito favorável sobre o assunto pois, não surgiu nenhuma diretriz seja por parte das instituições privadas, públicas ou mesmo pelo Ministério da Educação que auxiliasse tanto para o ensino como para os desdobramentos de discussões entre todos os pares surgindo ao redor do Brasil que interessados em ensinar precisaram buscar outros meios.6
O trabalho com o título “Parâmetros do Ensino de Língua de Sinais”7 e análise semelhante6, em que analisaram ementas de disciplinas ao redor do Brasil, apontam que estão sendo desenvolvidas a concepção de surdez, da deficiência auditiva, isto é, do ponto de vista clínico: as causas e prevenções, os aparelhos auditivos, o implante coclear. Há uma insípida exploração em assuntos pertinentes das comunidades surdas, que dizem respeito a cultura, ao sujeito sócio-histórico, a formação da comunidade e a importância da Língua de Sinais.
Esses aspectos são questões relevantes e que servem como preâmbulo para a pesquisa que foi realizada, pois dizem respeito à proposta deste estudo que é o ensino de Libras para os estudantes de enfermagem, dentro de uma instituição privada de ensino superior, de maneira obrigatória na grade do curso.
E o que foi pesquisado diz respeito as práticas de ensino. Uma disciplina com duração de quarenta horas, duas aulas por semana, em que teve três pilares no auxílio do aprendizado: A Iconicidade, para auxiliar o ensino e aprendizagem, por conta do curto período; Os Classificadores e a Expressão Facial, para dar corpo e ir além do que a aula poderia ser capaz de proporcionar; e, com foco na conversação da Libras, proporcionando aulas sem falas orais, seja dos alunos e do professor.
Não existe uma única fórmula, que serviria para ensinar Língua de Sinais para qualquer pessoa, e esta pesquisa tampouco tem essa intenção, uma vez que o processo foi se desdobrando turma a turma, ganhando novo corpo, novas propostas, destrinchando os objetos, afunilando as perspectivas e traçando planos de aulas que se relacionavam também com os objetivos dos alunos8. Então neste período (2018 - 2023), pode-se entender tudo como um longo processo e construção, mesmo que as turmas tenham mudado a cada semestre e, mesmo que não tenha uma resposta final de uma metodologia ideal, porque não existe essa pretensão, nem o trabalho aqui proposto tem a capacidade de apresentar tal, uma vez que as Línguas de Sinais são línguas naturais como qualquer outra.
Assim como já falado sobre as diretrizes, o ensino de Libras carece de apostilas, materiais didáticos, entre outras ferramentas que auxiliem os professores. O primeiro material que surgiu, Libras em Contexto7, não direciona os estudos para o campo linguístico, focando mais na preparação de unidades de ensino (planos de aula). O que era comum em muitas aulas de Libras, e também podia ser observado através das análises das ementas (aula de cores, de animais, de objetos, dos meses).
Vale a pena fazer um comentário sobre a importância do ensino de um idioma de uma minoria linguística dentro de um curso de ensino superior da área da saúde. O Decreto Federal Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, além daquilo mostrado, destaca no inciso IX que o atendimento às pessoas surdas ou com deficiência auditiva na rede de serviços do SUS e das empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde, deve ser realizado por profissionais capacitados para o uso de Libras ou para sua tradução e interpretação.
Importante questão respaldada em lei na medida em que, primeiro, pensou a Libras como uma política pública; segundo, que o processo de desenvolvimento da inclusão se dá, também, através do aprendizado das línguas de sinais pelos profissionais envolvidos, ou por interpretação. Mas vale notar o destaque no final do inciso, onde se aponta para os profissionais de saúde como profissionais capacitados para o uso de Libras, e somente depois para a tradução e interpretação.
CONCLUSÃO
Acreditamos que são pesquisas como esta que dão respaldo na continuidade do trabalho como também ampliação dele, e seja um suporte e referência para que mais gente fale de Libras, discuta e opte pelo ensino e aprendizagem da língua dos surdos. A inclusão se dá não apenas pelos indivíduos acolhidos, mas sobretudo, também pelos temas debatidos nos diversos ambientes acadêmicos.
Esperamos que o presente artigo seja um marco para o nosso trabalho na medida em que dele, possamos traçar metas e expectativas, tanto para tentar atender a demanda do aprendizado da Libras aos alunos, assim como que, a partir do conhecimento, possam aplica-lo em outras formas de desenvolver o conhecimento dentro da faculdade, na produção de artigos, na criação de possíveis ligas, no trabalho com a comunidade e dialogando com a população em torno da faculdade.
Com o respaldo do artigo, podemos pensar em propostas futuras, melhorias, e dialogar com trabalhos parecidos ao redor do Brasil, que tem optado por deixar a Libras de forma presencial e obrigatória em cursos de ensino superior, mesmo que a lei ainda não exija.
REFERÊNCIAS
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