VALIDAÇÃO DO PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO PARA OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO BANHO DE ASPERSÃO NO QUOTIDIANO DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO

VALIDAÇÃO DO PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO PARA OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO BANHO DE ASPERSÃO NO QUOTIDIANO DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO

VALIDATION OF THE STANDARD OPERATING PROCEDURE FOR NURSING CARE IN SPRAY BATHS IN THE EVERYDAY LIFE OF INSTITUTIONALIZED ELDERLY PEOPLE

VALIDACIÓN DEL PROCEDIMIENTO OPERATIVO ESTÁNDAR PARA CUIDADOS DE ENFERMERÍA EN BAÑOS ROCIADOS EN EL COTIDIANO DE PERSONAS MAYORES INSTITUCIONALIZADAS

Autores:

Fabiana de Morais - Enfermeira. Mestre em Gestão do Cuidado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialização em Urgência, Emergência e Atendimento Pré- Hospitalar, Estratégia Saúde da Família, UTI Geral e Gestão de Assistência ao Paciente Crítico, Enfermagem do Trabalho e Enfermagem UTI Neo e Pediátrica. ORCID: 0009-0009-0236-1719

Maria Ligia dos Reis Bellaguarda  - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina PEN/UFSC (2013) Docente do Ensino Superior da Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: 0000-0001-9998-3040

Melissa Honorio Locks - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina PEN/UFSC (2020) Enfermeiro da UPA da Prefeitura Municipal de Biguaçu. ORCID: 0000-0003-0972-2053

Daniella Karine Souza Lima - Enfermeira. Doutorado em Biologia Experimental e Cuidado em Saúde e Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016-2020). Docente Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: 0000-0001-7167-0907

Nadia Maria Chidelli Sallum  - Enfermeira Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina PEN/UFSC (2007), Docente Programa Pós-Graduação Gestão do Cuidado da Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: 0000-0002-2624-6477

Adriana Dutra Tholl - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina PEN/UFSC (2015). Professor Adjunto Classe C1 da Universidade Federal de Santa Catarina. ORCID: 0000-0002-5084-9972

Renan Barros Braga - Enfermeiro. Graduação em enfermagem pela Faculdade dos Carajás.ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-8194-3024

RESUMO

Objetivo: Construir e validar um Procedimento Operacional Padrão para os cuidados de enfermagem no banho de aspersão, no cotidiano de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Metodologia: Estudo metodológico, desenvolvido em três etapas: revisão integrativa da literatura; entrevista individual; e validação de conteúdo por experts no cuidado com idoso. Resultados: A revisão integrativa da literatura foi composta por 13 artigos selecionados em seis bases de dados. Após análise dos dados qualitativos provenientes das entrevistas dos profissionais atuantes na instituição de longa permanência, emergiram duas categorias centrais: rotinas do banho de aspersão; e potências e limites no banho de aspersão. Conclusão: O Procedimento Operacional Padrão para os cuidados de Enfermagem no banho de aspersão no cotidiano de uma instituição de longa permanência para idosos é um recurso necessário para a segurança do idoso, qualifica a prática e promove melhor desempenho profissional.

DESCRITORES: Banhos; Cuidados de enfermagem; Instituição de longa permanência para idosos; Segurança do paciente.

SUMMARY

Objective: Build and validate a Standard Operating Procedure for nursing care in the spray bath, in the daily life of a Long-Term Institution for the Elderly (LTCF). Methodology: Methodological study, developed in three stages: integrative literature review; individual interview; and content validation by experts in elderly care. Results: The integrative literature review consisted of 13 articles selected from six databases. After analyzing the qualitative data from interviews with professionals working in the long-term care institution, two central categories emerged: spray bath routines; and powers and limits in the spray bath. Conclusion: The Standard Operating Procedure for Nursing care in the spray bath in the daily routine of a long-term care institution for the elderly is a necessary resource for the safety of the elderly, qualifies the practice and promotes better professional performance.

DESCRIPTORS: Baths; Nursing care; Long-term care institution for the elderly; Patient safety.

RESUMEN

Objetivo: Construir y validar un Procedimiento Operativo Estándar para el cuidado de enfermería en el baño de aspersión, en el cotidiano de una Institución de Larga Estancia para Adultos Mayores (LTCF). Metodología: Estudio metodológico, desarrollado en tres etapas: revisión integrativa de la literatura; entrevista individual; y validación de contenidos por parte de expertos en el cuidado de personas mayores. Resultados: La revisión integrativa de la literatura estuvo compuesta por 13 artículos seleccionados de seis bases de datos. Después de analizar los datos cualitativos de las entrevistas con profesionales que trabajan en la institución de cuidados a largo plazo, surgieron dos categorías centrales: rutinas de baños de spray; y poderes y límites en el baño de spray. Conclusión: El Procedimiento Operativo Estándar para el cuidado de Enfermería en el baño de aspersión en el día a día de una institución de atención a personas mayores es un recurso necesario para la seguridad de las personas mayores, califica la práctica y promueve un mejor desempeño profesional.

DESCRIPTORES: Baños; cuidado de enfermera; Institución de atención a largo plazo para personas mayores; Seguridad del paciente

Tipo de artigo: Revisão Integrativa

Recebido:26/06/2024 Aprovado: 26/07/2024

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno ocorrido em escala global. Associado ao envelhecimento, observam-se limitações diversas das Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD), que decorre da procura por cuidados especializados em Instituições de Longa Permanência (ILPI). Essas limitações correspondem ao declínio da funcionalidade de natureza multifatorial, que levam ao risco de queda, podendo trazer consequências irreversíveis, tornando-se um desafio para os profissionais atuantes no cuidado direto em ILPI(1).

Um dos fatores ambientais que favorece o risco de queda é o banheiro, principalmente no ato de banhar-se, gerando insegurança com a molhadura que torna o piso escorregadio. Assim, medidas de segurança tornam-se necessárias para evitar o risco de quedas, com o objetivo de aumentar a qualidade de vida, bem-estar, autonomia e segurança da população idosa(2).

Uma das medidas de segurança eficazes e seguras é a utilização de um Procedimento Operacional Padrão (POP)(3), corroborando com os estudos de Reis e Silva(4), que definem o POP como uma ferramenta que descreve o passo a passo detalhadamente e de forma sequencial das ações de enfermagem, padronizando os cuidados assistenciais, objetivando a segurança na assistência prestada, reduzindo ou erradicando os eventos adversos, que resultam em danos ao idoso.

Assim, com base nas lacunas encontradas na literatura acerca dos cuidados de enfermagem no banho de aspersão no quotidiano do idoso institucionalizado, compreende-se que a construção e validação de um POP, poderá subsidiar uma prática segura ao idoso, sobretudo, qualificar o fazer da enfermagem, baseado em evidências científicas.

Nesse pensar, entende-se por quotidiano, a “maneira de viver dos seres humanos que se mostra no dia a dia, expresso por suas interações, crenças, valores, símbolos, significados, imagens e imaginário, que vão delineando seu processo de viver, num movimento de ser saudável e adoecer, pontuando seu ciclo vital”(5:8). O quotidiano não se mostra apenas como cenário, mas integra as cenas do viver e do conviver, pautado nas necessidades humanas básicas.

O objetivo deste artigo é construir e validar um POP para os cuidados de enfermagem no banho de aspersão no cotidiano de uma ILPI, fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas (TNHB) proposto por Horta(6).

MÉTODOS

Estudo metodológico, guiado pelo Manual de Padronização da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares(7) e fundamentado na TNHB(6). O estudo foi desenvolvido no período de março e dezembro de 2022, tendo como cenário, uma ILPI no sul do Brasil.

O POP foi elaborado pela triangulação dos dados de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL) e entrevistas individuais. A RIL teve como objetivo identificar quais cuidados de enfermagem são necessários para o banho de aspersão seguro no cotidiano de uma ILPI. A busca ocorreu nas bases de dados: PubMed, Scopus, LILACS, BDENF, Embase e Scielo, no mês de março de 2022, considerando o espaço temporal de 2001 a 2022.

As entrevistas individuais foram realizadas de forma presencial, com duração média de 40 minutos, com profissionais da saúde e cuidadores de uma ILPI. Foi utilizado um instrumento semiestruturado, elaborado pelos autores, a partir dos objetivos do estudo, constituído de duas partes: a primeira com questões para identificação de características sociodemográficas; e a segunda, contendo duas questões norteadoras: Como é a rotina do banho de aspersão do idoso no cotidiano de uma ILPI? Quais as potências e os limites no banho de aspersão do idoso no cotidiano de uma ILPI?

O convite para os participantes foi realizado por meio de correspondência eletrônica, cujo contato foi fornecido pela Gerente da Instituição. Após o aceite, outro e-mail foi enviado, contendo o arquivo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram considerados critérios de inclusão: ser enfermeiro, técnico de enfermagem e cuidador formal com vínculo empregatício, atuantes na ILPI. Considerou-se como critérios de exclusão, os profissionais formais que estavam de férias ou licença-saúde, licença-gestação, licença-prêmio, licença sem vencimentos, profissionais aposentados ou afastados no momento da coleta de dados.

Destaca-se que antes de iniciar a análise, o arquivo com a transcrição literal da entrevista foi encaminhado para o e-mail individual de cada participante, para que os mesmos validassem o conteúdo.

Para tratamento, as entrevistas foram transcritas na íntegra em texto digitado no programa Microsoft Word®, e após submetidas à Análise de Conteúdo, modalidade temática seguindo as três etapas propostas(8). O processo de Análise de Conteúdo(8) compreendeu as fases: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados: interpretação e inferência. Na pré-análise, os dados foram organizados em um quadro para facilitar a leitura flutuante e constituído o corpus de análise. Na etapa de exploração do material foi realizada a codificação inicial, a partir do recorte das falas. Na etapa de tratamento, interpretação e inferência foi realizado o agrupamento semântico, dando significado aos códigos sob o olhar da TNHB(6).

A etapa de validação de conteúdo do POP, consistiu de duas rodadas pela técnica Delphi, composta por um comitê de juízes atuantes no cuidado e em pesquisa com idoso. Rodrigues et al.(9) destacam que o POP adquire maior credibilidade científica quando é validado. A técnica Delphi consiste em um método sistematizado de julgamento de informações, útil para obter consensos de especialistas sobre determinado tema por meio de validações articuladas em fases ou ciclos(10).

A escolha dos juízes ocorreu por meio da opção de busca avançada na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), utilizando os seguintes termos: Geriatria; Instituição de Longa Permanência; e Enfermagem com o auxílio do operador booleano “AND”.

Os critérios de inclusão para juízes nesta pesquisa foram: serem experts atuantes no cuidado ao idoso, quer sejam pesquisadores/docentes ou profissionais assistenciais. Os critérios de exclusão foram: pesquisadores/docentes ou profissionais assistenciais de licença maternidade, saúde, férias ou não ter especialização na área.

Os juízes foram convidados a participar da pesquisa por meio de uma correspondência eletrônica, assinando o TCLE. Foi enviado aos juízes um link com o questionário de avaliação criado na ferramenta no GoogleForms®, estruturado em cinco domínios e 56 subitens. A primeira parte do questionário, referiu-se aos dados sociodemográficos dos avaliadores: idade, sexo e formação profissional. A segunda parte do questionário, constituiu-se dos temas que emergiram da RIL, compondo os domínios e os itens dos instrumentos. Para avaliar o POP, utilizou-se a etapa de validação de conteúdo(11). Nessas construção, foram utilizados os seguintes critérios: estrutura e apresentação; clareza/compreensão; conteúdo; eficiência/consistência; objetividade e relevância. Para pontuar cada um dos critérios, os juízes utilizaram escores por meio da escala de Likert: 1. Discordo totalmente; 2. Discordo parcialmente; 3. Intervenção irrelevante; 4. Concordo parcialmente; e 5. Concordo totalmente. Concedeu-se um espaço para comentários e sugestões ao final de cada item avaliado.

Após a devolutiva das análises feitas pelos juízes, os dados foram agrupados e organizados em tabelas no programa Excel®, versão 2013 e suas pontuações foram calculadas a partir do Índice de Validade de Conteúdo (IVC)(12), que mensura a porcentagem de avaliadores que concordam sobre determinados aspectos do instrumento e de seus domínios; permitindo então, analisar cada item individualmente e o instrumento como um todo(12).

Assim sendo, as respostas dos níveis de relevância “1”, “2” e “3” pertenceram ao grupo “Intervenções não relevantes (INR)” e as respostas dos níveis “4” e “5” pertenceram ao grupo “Intervenções relevantes (IR)”. O cálculo para a obtenção do IVC teve como base a equação: IVC= nº de IR/ nº total de respostas.

Depois do retorno dos documentos, os ajustes foram realizados conforme sugestões. Em seguida, um novo cálculo do IVC entre os escores 4 e 5 foram realizados na segunda rodada, chegando-se à versão final do POP.

Consideraram-se como válidos os itens que alcançaram o IVC superior a 80% (IVC ≥ 80%) e um grau de concordância igual ou superior a 80% dos itens como um todo, que foi calculado somando-se todos os IVC obtidos nos domínios e dividindo-se pelo total de subitens do POP(12).

O desenvolvimento da pesquisa seguiu os preceitos éticos disciplinados pelas Resoluções 466/12 e 510/2016 referentes à pesquisa com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde e seguiu as orientações para procedimentos de pesquisa em ambiente virtual da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição signatária sob o nº 5.180.084. Para garantir o anonimato dos participantes, na apresentação dos resultados do estudo, os extratos de suas falas estão identificados com o nome de espécies de flores, seguidos de um número arábico indicativo da ordem de realização das entrevistas.

RESULTADOS

A RIL foi composta por 13 estudos que apresentaram cuidados de enfermagem com ou sem auxílio, para o banho de aspersão da pessoa idosa institucionalizada, envolvendo o equilíbrio psicobiológico, psicossocial e psicoespiritual para a manutenção do bem-estar e a promoção da qualidade de vida do idoso, contribuindo para a segurança e qualidade nas ações prestadas.

Da análise dos dados das entrevistas emergiu duas categorias centrais: rotina do banho de aspersão; e potências e limites no banho de aspersão. A rotina do banho de aspersão se apresenta de acordo com as atividades privativas de cada categoria profissional. O enfermeiro assistencial avalia o idoso clinicamente e faz a distribuição dos banhos por turno. Avalia e supervisiona a equipe de enfermagem e os cuidadores na assistência prestada diretamente ao idoso. Os técnicos de enfermagem se organizam nos cuidados antes, durante e após o banho de aspersão, que compreende a administração de medicamentos, oferta do café, preparo para o cenário do banho e o banho propriamente dito. Os cuidadores auxiliam no banho e fazem companhia para o idoso. O banho é uma potência porque possibilita conversar com o idoso, estabelece vínculo, promove relaxamento e aliviando o estresse. Todavia, caracteriza-se um limite quando há dependência total nos cuidados, quando a demência gera um comportamento agressivo, ou quando os aspectos culturais do idoso interferem no processo de adaptação das normas da Instituição.

Quanto à caracterização dos participantes das entrevistas, a população foi constituída por 19 profissionais, sendo quatro enfermeiros, nove técnicos de enfermagem e seis cuidadores formais, atuantes em uma ILPI. Todas eram mulheres, com idade mínima de 19 anos e máxima de 52 anos, com tempo de atuação entre seis meses e sete anos.

Na primeira rodada de validação, foram enviados 25 convites para o e-mail pessoal dos candidatos selecionados a juízes, com prazo de 20 dias para retorno do documento validado, sendo obtidas 10 respostas, constituindo-se a amostra de 10 juízes. Não se obteve resposta dos outros quinze convidados.

No que se refere ao perfil dos juízes, 90% eram do sexo feminino e 10% do sexo masculino, com faixa etária entre 28 e 52 anos, com média de idade de 40 anos. Buscou-se participantes distribuídos nos Estados da Federação: sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo), sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina), centro oeste (Goiás), e nordeste (Bahia). Quanto ao tempo de formação, a maioria (90% dos juízes) concluiu a graduação em enfermagem entre 10 e 30 anos e apenas um há menos de 10 anos. Em relação à instituição formadora, 50% dos participantes foram formados em instituições públicas. Referente à formação no nível de pós-graduação, 30% dos juízes têm Mestrado, 60% têm Doutorado e 10% Pós-Doutorado.

O formulário de validação do POP enviado aos juízes foi composto por cinco domínios e 56 subitens, subdivididos em: Orientações gerais, Domínio 1 – Preparação e avaliação das condições clínicas do idoso, contendo 6 subitens; Domínio 2 – Materiais necessários para o banho, com 13 subitens; Domínio 3 – Intervenções para o equilíbrio das necessidades psicobiológicas, com 27 subitens; Domínio 4 – Intervenções para o equilíbrio das necessidades psicossociais; contendo 7 subitens; Domínio 5 – Intervenções para o equilíbrio das necessidades psicoespirituais, com 3 subitens.

Após retorno dos documentos validados pelos juízes, na primeira rodada de validação, os mesmos foram avaliados pela pesquisadora. Dos 56 subitens avaliados, foram sugeridas modificações em 49 subitens. Embora o IVC apresentasse um valor acima do determinado para validação (0,98%), julgou-se necessária uma segunda rodada de validação, considerando as sugestões realizadas pelos juízes.

Após a realização das modificações sugeridas, foi formulada a segunda versão do POP e submetida à nova validação. O formulário de validação e o POP foram enviados aos 10 juízes participantes da primeira rodada, que solicitaram modificações em 15 subitens, obtendo-se o cálculo do IVC de (0,97%).

Considerando que os dados obtidos dos juízes contêm muitas informações, será apresentada uma síntese desses dados tabelas, quadro e figuras.

A Tabela 1 apresenta uma síntese da primeira e segunda rodada, por juízes enfermeiros (n=10), por medidas de confiabilidade de Índice de Validade de Conteúdo para os cinco domínios do POP para o banho de aspersão do idoso institucionalizado.

Tabela 1 – IVC para os cinco domínios do POP (n=10)

Juízes

Domínios

1-5

IVC

1 Rodada

IVC

2 Rodada

10

Preparo e avaliação clínica do idoso

0,93

0,95

10

Material necessário para o banho

1,00

0,98

10

Intervenções para o equilíbrio das necessidades psicobiologias

0,96

0,99

10

Intervenções para o equilíbrio das necessidades psicossociais

1,00

1,00

10

Intervenções para o equilíbrio das necessidades psicoespirituais

1,00

0,95

IVC Total

 

0,98

0,97

Fonte: elaborada pela autora (2020)

Na primeira rodada de validação de conteúdo do POP, os juízes avaliaram todos os itens do domínio 1 com IVC ≥ 0,8, com média geral de 0,93. Na segunda rodada deste domínio, os juízes avaliaram todos os itens com IVC maior ou igual a 0,9, com média geral de 0,95. De acordo com os resultados da segunda rodada, foram sugeridas várias modificações pelos juízes, as quais foram acatadas.

Na primeira rodada de validação do domínio 2, foram sugeridas pelos juízes várias alteração na escrita e, na segunda rodada, os juízes sugeriram outras. Obteve-se a média geral do IVC na primeira rodada de 1,0 e de 0,98 na segunda rodada.

Os subitens do domínio 3 foram avaliados pelos juízes com IVC ≥ 0,8 na primeira e segunda rodada de validação de conteúdo, obtendo-se como média geral IVC igual a 0,97 e 0,99 respectivamente.

Na avaliação dos juízes da primeira e segunda rodada do domínio 4, obteve-se IVC igual a 1,0. Os subitens do domínio 5 foram avaliados pelos juízes, com IVC igual a 1,0 na primeira rodada e 0,95 na segunda rodada.

Na Figura 1, as porcentagens de concordância entre os juízes, considerando os escores 3 e 4 em todos os critérios quando avaliados os itens e subitens na primeira rodada, foram superiores a 94%. A maior porcentagem foi em relação ao critério eficiência/consistência e relevância (100%) e a menor foi no critério clareza e compreensão (92%).

Figura 1 – Porcentagem de concordância dos critérios pontuados na primeira rodada

Fonte: elaborada pela autora (2020)

As porcentagens de concordância entre os juízes, considerando os escores 3 e 4 em todos os critérios quando avaliados os itens e subitens na segunda rodada, foram superiores a 96% (Figura 2). A maior porcentagem foi em relação ao critério relevância (100%) e a menor foi no critério clareza e compreensão (88%).

Figura 2 – Porcentagem de concordância dos critérios pontuados na segunda rodada

Fonte: elaborada pela autora (2020)

Destarte, com base na avaliação dos juízes na primeira e segunda rodada, o POP para os cuidados de enfermagem no banho de aspersão no cotidiano de uma ILPI, foi considerado válido.

DISCUSSÃO

O perfil dos profissionais que participaram como juízes esteve de acordo com os critérios de inclusão preestabelecidos pela técnica Delfi, haja vista que todos possuem experiência na temática estudada, são profissionais enfermeiros atuantes há mais de 10 anos na prática e/ou ensino e todos desenvolvem ou já desenvolveram atividades relacionadas à prática com idosos.

No que refere à validação de conteúdo, os dados mostram um IVC médio superior a 0,90 em todos os itens e subitens para todos os critérios. Assim, compreende-se que o procedimento operacional padrão para banho de aspersão no quotidiano da ILPI está bem estruturado, claro, conciso e é relevante para a prática de enfermagem. Apesar da necessidade de ajustes sugeridos pelos juízes, as sugestões de mudança relacionavam-se à alteração na escrita e à mudança de ordem.

Considerando a média geral do IVC da primeira rodada, aliada ao IVC da segunda rodada, bem como à concordância entre os juízes da primeira rodada e à concordância dos itens e subitens da segunda rodada, julgou-se que o procedimento operacional padrão para banho de aspersão no quotidiano da ILPI foi concluído com efetividade em todos os critérios estabelecidos para serem avaliados pelos juízes.

De acordo com o amplo trabalho no quotidiano de uma ILPI, tendo em vista a constante procura de lares institucionalizados como uma alternativa para um cuidado mais direcionado voltado à pessoa idosa, ocasionado pelo acentuado privilégio do envelhecer, que no passado era para poucos, que de acordo com Saraiva et al.(13), o envelhecimento envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociológicos, que diferenciam os indivíduos, uns com maior vulnerabilidade devido a comorbidades. Para muitos, o envelhecimento traz consigo algum grau de comprometimento da sua capacidade funcional e cognitiva, levando a limitações, necessitando de atenção, auxílio e cuidados nas ABVD(14).

Nesse contexto, os cuidados de enfermagem no banho de aspersão, envolvem uma assistência complexa e interativa. As medidas corretas de higiene corporal(13) são fundamentais no cuidado da pessoa idosa, promovendo limpeza e proporcionando conforto. Costa(2) salienta que o banho faz parte da vida do ser humano há muito tempo, além da higiene pessoal, proporciona sensação de bem-estar, relaxamento e alívio do estresse diário. Costa(2) ainda afirma que o ato de se banhar traz alguns riscos de acidentes aos idosos, como por exemplo, quedas, em virtude de maior fragilidade física apresentada nesta fase da vida. Outro contribuidor importante para acidentes é o piso molhado da área do chuveiro, tornando-se escorregadio, normalmente ocorrem escorregões e perda de equilíbrio resultando em quedas(2).

Nesse cenário, os profissionais atuantes na ILPI, têm grande responsabilidade na assistência direta e contínua que protagonizam um relevante e desafiador papel quotidianamente, no desempenhar dessas funções, dentre eles o banho, que é um importante momento do cuidado. Vieira(15) destaca que uma ILPI de alta qualidade tem a competência de capacitar seus profissionais para a entrega do cuidado qualificado e efetivo, com ações que devem ser baseadas em princípios clínicos e evidências, possibilitando a resolução de problemas.

Souza, Melo e Carrara(16) sinalizam sobre a importância e necessidade de ter profissionais atuantes em ILPI capacitados técnica e emocionalmente, possibilitando um cuidado qualificado e holístico. Ainda em seus estudos, os autores(16) contemplam o quão relevante é a atuação do enfermeiro responsável em ILPI, planejando estrategicamente cada ação do cuidado, posteriormente colocadas em prática pelos demais membros, como: cuidados de higiene, alimentação, ações assistências companhia ao idoso, e conforto. Sendo assim, uma forma estratégica, segura e efetiva para implementação da assistência é a construção de um POP, proporcionando maior organização, confiabilidade, organização nos serviços assistenciais de enfermagem, sistematização do cuidado, garantindo a melhoria da assistência de enfermagem(3,17).

Para Rodrigues et al.(3), o POP traz uma descrição sequencial e detalhada das atividades a serem executadas, com o intuito de padronizar as ações e serviços, de acordo com a demanda institucional.

POPs validados, contribuem e auxiliam de forma direta nas práticas do enfermeiro e de toda a equipe de saúde envolvida, objetivando o alcance uniforme e harmônico na execução de procedimentos, como por exemplo, o banho de aspersão em idosos, capacitando-os com o intuito de melhorar a assistência profissional e garantir a qualidade por meio da padronização(17).

Conforme Silva et al.(18), o POP oferece um documento de forma sistematizada de normas e rotinas técnico-assistenciais, qualificada de acordo com as necessidades, estabelecendo padrões seguros, visando a satisfação dos profissionais e dos usuários. Portanto, a utilização de um procedimento operacional padrão em uma ILPI se dá, primordialmente, visando uma melhor segurança e qualidade nos serviços prestados. Dessa forma, para fundamentar e nortear cientificamente a construção desse POP, foi escolhida: TNHB de Horta(6), por ser uma teoria alicerçada na concentração das necessidades básicas do ser humano, holisticamente integrada e preocupada em atender a essas necessidades, tendo como resultado a promoção da saúde e o bem-estar. A TNHB contribuiu para um requintado e organizado desenvolvimento das práticas do cuidar, para a tomada de decisões, possibilitando um planejamento e intervenções efetivas, permeando um cuidado integral e humanizado, considerando os aspectos bio-psico-sócio-espirituais(19).

A TNHB é considerada uma das teorias mais utilizadas na enfermagem brasileira, pois enfoca a importância do cuidado humano e individualizado na promoção da saúde e prevenção de doenças. Nesse contexto, a teoria em questão promoveu um enriquecedor crescimento profissional(20).

O POP desenvolvido visa a redução de danos associados a condutas e procedimentos aleatórios, sem um direcionamento baseado em evidência científica. A fundamentação com a TNHB permitiu comtemplar as necessidades bio-psico-sócio-espirituais do idoso, potencializando o cuidar de forma humanizada. Nesse aspecto, a TNHB fundamentou as estratégias de cuidado para o banho de aspersão em uma ILPI, ressaltando as necessidades do idoso pelos fios das leis hemodinâmicas, de adaptação e holismo.

CONCLUSÃO

O POP foi desenvolvido para auxiliar nos cuidados de Enfermagem no banho de aspersão no cotidiano de uma ILPI. É um instrumento compilado em saberes científicos, imprescindível, que guiará os profissionais metodologicamente, minimizando erros nos cuidados à pessoa idosa, garantindo maior segurança para todos os envolvidos de forma integrada e estratégica.

A utilização do POP contribui positivamente para a tomada de decisão, reduzindo desvios de inconformidades por meio da padronização de todos os cuidados assistenciais direcionados ao banho de aspersão, estabelecendo instruções sequenciais, organizadas e de fácil compreensão.

 

REFERÊNCIAS

 

  1. Baixinho CL, Dixe MA, Henriques MA, Marques-Vieira C, Sousa L. O medo de queda nos profissionais que cuidam de idosos institucionalizados. Rev Gaúcha Enferm. 2021 [acesso em 2023 Jan 12];42:e20200258. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200258
  2. Costa RM. Sobre piso para diminuir riscos no uso do banheiro doméstico por idosos. [Trabalho de Conclusão de Curso] [Internet]. Florianópolis: Universidade do Sul de Santa Catarina; 2021. [acesso em 2023 Fev 1]. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/20084/1/TCC%20%20Renata%20Marcelino%20Costa.pdf
  3. Rodrigues RN, Matos RS, Mendes KM, Souza LTC, Gomes JRAA, Quirino GMS, Itacarambi LR, Khouri CS, Feliz CA, Noleto IV, Queiroz LJ, Silza RF. Procedimento operacional padrão específico à atenção integral de paciente com Covid-19. Health Residencies Journal-HRJ [Internet]. 2022 [acesso em 2023 Fev 1];3(14):477-495. Disponível em: https://escsresidencias.emnuvens.com.br/hrj/article/view/364/291
  4. Reis JOB, Silva CMC. Implementation of Standard Operating Procedure: care in arterial catheterization in intensive care. Research, Society and Development [Internet]. 2021 [acesso em 2022 Nov 27];10(11):e29101119304-e29101119304. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/19304/17234
  5. Nitschke RG, Tholl AD, Potrich T, Silva KM, Michelin SR, Laureano DD. Contribuições do pensamento de Michel Maffesoli para pesquisa em enfermagem e saúde. Texto e Contexto Enfermagem [Internet]. 2017 [acesso em 2022 Nov 27];26(4):1-102. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=71453540032
  6. Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: Guanabara Koogan; 2011.
  7. Brasil. Ministério da Educação. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. Manual de Padronização de POPs. Brasília: EBSERH; 2014.
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