EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS OF ACCIDENTS CAUSED BY VENOMOUS ANIMALS IN THE STATE OF PERNAMBUCO
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS OF ACCIDENTS CAUSED BY VENOMOUS ANIMALS IN THE STATE OF PERNAMBUCO
ANÁLISIS EPIDEMIOLÓGICO DE ACCIDENTES CAUSADOS POR ANIMALES VENENOSOS EN EL ESTADO DE PERNAMBUCO
Autores:
Carlos Antonio de Lima Filho: Graduando em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico de Vitória (UFPE-CAV), Departamento de Enfermagem, Rua Alto do Reservatório - Alto José Leal, Vitória de Santo Antão (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5517-0347.
Diogo de Oliveira Caires: Graduando em Medicina pela Faculdade de Ciências Médias de Jaboatão dos Guararapes (FCM), Avenida Barreto de Menezes - Prazeres, Jaboatão dos Guararapes (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6275-9272.
Sebastião Alves Santana Neto: Graduando em Medicina pela Faculdade de Ciências Médias de Jaboatão dos Guararapes (FCM), Avenida Barreto de Menezes - Prazeres, Jaboatão dos Guararapes (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6098-6199.
Matheus dos Santos Carvalho: Graduado em Enfermagem pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT), Av. Mal. Mascarenhas de Morais – Imbiribeira, Recife (PE), Brasil ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5835-191X.
Pedro Marconi Aragão de Souza: Graduando em Medicina pela Faculdade de Ciências Médias de Jaboatão dos Guararapes (FCM), Avenida Barreto de Menezes - Prazeres, Jaboatão dos Guararapes (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-3599-2721.
Ana Luiza Melo dos Santos: Graduanda em Medicina pela Faculdade de Ciências Médias de Jaboatão dos Guararapes (FCM), Avenida Barreto de Menezes - Prazeres, Jaboatão dos Guararapes (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0009-4260-3612.
Camilla Siqueira de Freitas Gois: Graduanda em Medicina pela Faculdade de Ciências Médias de Jaboatão dos Guararapes (FCM), Avenida Barreto de Menezes - Prazeres, Jaboatão dos Guararapes (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-9135-0448.
Sarah Rosalva Gomes de Lacerda: Graduanda em Medicina pela Faculdade de Ciências Médias de Jaboatão dos Guararapes (FCM), Avenida Barreto de Menezes - Prazeres, Jaboatão dos Guararapes (PE), Brasil, ORCID: https://orcid.org/0009-0003-3452-2261.
Amanda de Oliveira Bernardino: Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico de Vitória (UFPE-CAV), Departamento de Enfermagem. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPE e Doutora em Enfermagem pelo Programa Associado de Pós-Graduação em Enfermagem da UPE-UEPB, Rua Doutor Otávio Coutinho - Santo Amaro, Recife (PE), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1011-8964.
RESUMO
Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos no estado de Pernambuco, entre 2018 e 2022. Método: Pesquisa epidemiológica do tipo quantitativa, realizada com secundários do SINAN. Selecionado às variáveis: sexo, faixa etária, raça, escolaridade, gestação, local de picada, tempo de atendimento, tipo de acidente, soroterapia, classificação e evolução final. Os Programa Microsoft Excel e Word foram utilizados para análise estatística. Resultados: Foram notificados 105.005 casos, predominando-se em períodos quentes e chuvosos. Houve maior notificação no sexo feminino (53,05%), dos 20 aos 39 anos (31,74%), ensino fundamental incompleto (15,96%), pardos (67,88%) e não gestantes (87,07%). A maioria dos acidentes foram causados por escorpiões (73,39%), originando-se nos pés (30,35%), com atendimento médico em até 1 hora (47,74%), leves (85,73%), evoluindo para cura (91,52%) sem soroterapia (82,92%). Conclusão: Torna-se evidente a importância de medidas para seu controle, principalmente em orientações populacional e o preenchimento correto da ficha de notificação.
Palavras-chave: Animais venenoso; Monitoramento Epidemiológico; Vigilância em Saúde Pública.
ABSTRACT
Objective: To analyze the epidemiological profile of accidents by venomous animals in the
state of Pernambuco between 2018 and 2022. Method: Quantitative epidemiological research using secondary data from SINAN. The following variables were selected: gender, age group, race, schooling, pregnancy, place of bite, time of care, type of accident, serotherapy, classification and final evolution. The Microsoft Excel and Word programs were used for statistical analysis. Results: 105,005 cases were reported, predominantly during hot and rainy periods. Most cases were reported among females (53.05%), those aged between 20 and 39 (31.74%), those with incomplete primary education (15.96%), those with brown skin (67.88%) and those who were not pregnant (87.07%). The majority of accidents were caused by scorpions (73.39%), originated in the feet (30.35%), with medical attention within 1 hour (47.74%), mild (85.73%), evolving to cure (91.52%) without serotherapy (82.92%). Conclusion: The importance of measures to control the disease is clear, especially in terms of guidance for the population and the correct completion of the notification form.
Keywords: Venomous animals; Epidemiological monitoring; Public health surveillance.
RESUMEN
Objetivo: Analizar el perfil epidemiológico de los accidentes por animales venenosos en el estado de Pernambuco entre 2018 y 2022. Método: Investigación epidemiológica cuantitativa utilizando datos secundarios del SINAN. Fueron seleccionadas las siguientes variables: sexo, grupo de edad, raza, escolaridad, embarazo, lugar de la mordedura, tiempo de atención, tipo de accidente, sueroterapia, clasificación y evolución final. Para el análisis estadístico se utilizó Microsoft Excel y Word. Resultados: Se notificaron 105.005 casos, predominantemente durante los períodos cálidos y lluviosos. La mayoría de los casos se notificaron en mujeres (53,05%), con edades comprendidas entre 20 y 39 años (31,74%), con estudios primarios incompletos (15,96%), de piel morena (67,88%) y no embarazadas (87,07%). La mayoría de los accidentes fueron causados por escorpiones (73,39%), se originaron en los pies (30,35%), recibieron atención médica en menos de 1 hora (47,74%), fueron leves (85,73%) y evolucionaron hacia la curación (91,52%) sin sueroterapia (82,92%). Conclusión: Es evidente la importancia de las medidas de control de la enfermedad, especialmente en lo que se refiere a la orientación de la población y a la correcta cumplimentación del formulario de notificación.
Palabras clave: Animales venenosos; Monitoreo epidemiológico; Vigilancia en Salud Pública.
Recebido: 16/10/2023 Aprovado: 17/11/2023
Tipo de artigo: Artigo Original
INTRODUÇÃO
O processo evolutivo fez com que muitos animais adquirissem a capacidade de produzir toxinas, para sua defesa e/ou caça, sendo classificados como animais venenosos1. Diferentemente de um animal venenoso, que transmite o veneno passivamente, os peçonhentos são caracterizados pela presença de um aparelho inoculador, que permite a passagem do veneno ativamente para a vítima e/ou presa2-3. Os Acidentes por Animais Peçonhentos (AAP) se característica como a segunda maior causa de envenenamento no Brasil, ficando atrás apenas das intoxicações por medicamentos.
O manejo clínico da vítima do AAP é protocolado pelo Ministério da Saúde (MS), baseado em três pontos importantes: 1. Estabilização da vítima (sinais vitais); 2. Verificação o histórico da vítima (local de picada, tempo do acidente, entre outros); e 3. Identificação do animal e espécie do acidente4. Os sintomas varia de acordo com o animal e o tipo de veneno envolvidos, podendo ser sintomas locais (dor, inchaço e necrose), gerais (vômito, convulsão, hipotensão e parada cardíaca) e/ou sistêmicos específicos (neurotoxidade, toxidade cardíaca e renal)5.
De acordo com os critérios de gravidade clínica, os AAP são classificados em acidentes leves, onde os sintomas são breves e resolvem naturalmente; os moderados, com os sintomas mais graves e/ou demorados; e os graves, onde os sintomas causam um risco de morte6. O tratamento é realizado principalmente na administração endovenosa da soroterapia antivenenosa, sendo uma substância capaz de se ligar ao veneno e neutralizar sua ação no organismo, específica de acordo com a substância venenosa7.
O Brasil possuí uma grande biodiversidade de fauna, incluindo os animais de interesse médico, sendo os animais peçonhentos os que ganham mais destaque nesse grupo8. O processo de crescimento e urbanização no Brasil aconteceu de forma descuidada, levando a um desequilíbrio ecológico, assim, animais peçonhentos e humanos começaram gradativamente dividirem o mesmo espaço, levando a um maior contato entre ambos2. Os principais agentes envolvidos no cenário brasileiro são as serpentes dos gêneros Bothrops (Jararaca, urutu), Lachesis (surucucu) e Crotalus (cascáveis); os escorpiões do gênero Tityus (bahiensis, serrulatus estigmurus); e por último as aranhas dos gêneros Phoneutria (aranha-madeira), Loxosceles (aranha-marrom) e Latrodectus (viúva negra)9.
Os AAP são considerados um problema de saúde pública, integrando a lista das principais Doenças Tropicais Negligenciadas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde10. No Brasil, o alto número de notificações dos AAP fez com fosse incluído na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública. Os registros acontecem mediante o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicos, o Sistema de Informações Hospitalares e o Sistema de Informações sobre Mortalidade8.
Ainda que exista uma rede para notificações dos AAP, no Brasil, a quantidade real ainda é desconhecida, uma vez que, muitos incidentes não são notificados e devido à falta de um sistema de vigilância epidemiológica eficiente11. Essa característica se torna mais evidente nas regiões Norte e Nordeste, onde as características epidemiológicas são pouco conhecidas, apesar da sua alta prevalência8. Entre as regiões brasileira, a Nordeste apresenta a segunda maior taxa de AAP, ficando atrás apenas da região Sudeste, com destaque para o estado de Pernambuco, que apresenta a segunda maior notificação da região12.
Perante o exposto, é visto que os AAP se apresenta como um acentuado problema de saúde pública no estado de Pernambuco, ainda assim, estudos que abordam essa temática no Estado ainda é escassa, não sendo capaz mensurar sua real prevalência e se as ações de controle tem apresentado o resultado esperado. Em face do apresentado, o objetivo desse trabalho foi analisar o perfil epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos no estado de Pernambuco, entre 2018 e 2022.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa epidemiológica, retrospectiva, ecológica, do tipo quantitativa, elaborada com base de dados secundários de notificações compulsória dos casos de AAP, do estado de Pernambuco, seguindo as diretrizes preconizada pelo Reporting of Studies Conducted Using Observational Routinely-Collected Health Data (RECORD)13. A população alvo foi composta por todos os casos notificados de AAP no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, no estado de Pernambuco, notificados no SINAN, base vinculado ao Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pernambuco é um dos nove estados da região nordeste no Brasil, são 184 município mais o Arquipélago de Fernando de Noronha, distribuído em uma área de 98.067.877 km2, com uma população de 9.058.155 habitantes14.
A coleta de dados ocorreu em outubro de 2023, acessando o SINAN/DATASUS, disponível no TabNet (http://tabnet.datasus.gov.br/). As variáveis utilizadas para a descrição dos casos notificados foram: sexo, faixa etária, raça, escolaridade, gestação, local de picada, tempo de atendimento (em horas), tipo de acidente, soroterapia, classificação final e evolução. Também foi levantado a taxa de incidência por 10.000 habitantes.
A princípio, os dados coletados foram inseridos em um banco de dados e tabulados, em seguida, foram levantas a frequências relativas e absolutas, através do Programa Microsoft Excel e Microsoft Word Versões 2019. Para uma melhor compreensão dos dados, eles foram apresentados em formato de tabelas e gráficos. A fim de realizar o levantamento bibliográfico foram utilizado as bases de dados acadêmicas Google Acadêmico, a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), preconizando a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o Scientific Electronic Library Online (SciELO); e o Portal de Periódicos CAPES.
Por se tratar de uma pesquisa com a utilização de dados secundários, de livre acesso, onde não houve identificação, não foi necessária a apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa para sua realização, de acordo com a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde15. Ainda assim, foram respeitada todas as normas presentes na resolução para esse tipo de pesquisa
RESULTADOS
No período de 2018 a 2022 foram notificados 105.005 (115, 92/10.000Hab) casos de acidentes por animais peçonhentos no estado de Pernambuco. A partir dos dados coletados, observa-se que os anos de maiores incidências foram 2018 (N:23.173; 25,58/10.000Hab) e 2019 (N:22.165; 24,47/10.000Hab), e o de menor incidência foi o de 2020 (N:17.669; 19,51/10.000Hab) (Gráfico 1).
Gráfico 1. Distribuição dos casos e taxa de incidência dos Acidentes por Animais Peçonhentos no estado de Pernambuco (2018-2022).
Em relação a distribuição sazonal dos casos, apresentada no Gráfico 2, observa-se uma maior prevalência de notificações no período de agosto (N:9.567; 9,11%), setembro (N:10.081; 9,60%) e outubro (N:9.214; 8,77%) seguido dos meses de março (N:8.983; 8,55%), abril (N:8.922; 8,50%) maio (N:8.905; 8,48%). O período entre novembro (N:8.180; 7,79%), dezembro (N:7.662; 7,30%), janeiro (N:8.016; 7,63%) e fevereiro (N:8.363; 7,96%) ocorreu uma menor prevalência das notificações.
Gráfico 2. Distribuição sazonal dos Acidentes por Animais Peçonhentos no estado de Pernambuco (2018-2022).
Em relação as características sociodemográficas, apresentadas na Tabela 1, nota-se 55.699 (53,05%) foram em indivíduos do sexo feminino, em relação a faixa etária 33.330 (31,74%) foram na faixa dos 20 aos 39, seguida dos indivíduos entre 40 aos 59 com 24.192 (23,04%) notificações. A respeito da escolaridade, a maioria dos casos foram notificação com ignorado/branco (56.549; 53,85%), contudo, ao avaliar apenas os casos com algum grau de escolaridade, observa-se 16.754 (15,96%) apresentavam o ensino fundamental incompleto, a grande maioria foram em indivíduos pardos, responsáveis por 71.280 (67,88%). Apenas 987 (0,92%) casos foram em gestantes, outros 64.663 (61,58%) não se aplicaram a essa variável.
Tabela 1. Características sociodemográficas dos Acidentes por Animais Peçonhentos no estado de Pernambuco (2018-2022)
Tabela 1. Características sociodemográficas dos Acidentes por Animais Peçonhentos no estado de Pernambuco (2018-2022) |
||
SEXO |
N |
% |
Ignorado/Branco |
13 |
0,01 |
Masculino |
49.293 |
46,94 |
Feminino |
55.699 |
53,05 |
FAIXA ETÁRIA |
N |
% |
Ignorado/Branco |
45 |
0,04 |
<1 |
1.856 |
1,77 |
1 - 4 |
7.427 |
7,07 |
5 - 9 |
8.710 |
8,29 |
10 - 14 |
7.696 |
7,34 |
15 - 19 |
8.699 |
8,28 |
20 - 39 |
33.330 |
31,74 |
40 - 59 |
24.192 |
23,04 |
60 - 64 |
4.144 |
3,95 |
65 - 69 |
3.257 |
3,10 |
70 - 79 |
4.181 |
3,98 |
>80 |
1.468 |
1,40 |
ESCOLARIDADE |
N |
% |
Ignorado/branco |
56.549 |
53,85 |
Analfabeto |
1.486 |
1,42 |
Ensino Fundamental Incompleto |
16.754 |
15,96 |
Ensino Fundamental Completo |
2.846 |
2,71 |
Ensino Médio Incompleto |
3.712 |
3,54 |
Ensino Médio Completo |
9.069 |
8,64 |
Ensino Superior Incompleto |
560 |
0,53 |
Ensino Superior Completo |
1.172 |
1,12 |
Não se aplica |
12.857 |
12,23 |
RAÇA |
N |
% |
Ignorado/Branco |
18.993 |
18,09 |
Branca |
10.569 |
10,07 |
Preta |
2.900 |
2,76 |
Amarela |
574 |
0,55 |
Parda |
71.280 |
67,88 |
Indígena |
689 |
0,65 |
GESTANTE |
N |
% |
Ignorado/Branco |
12.581 |
11,98 |
1° Trimestre |
157 |
0,15 |
2° Trimestre |
353 |
0,35 |
3° Trimestre |
246 |
0,23 |
Idade Gestacional Ignorada |
234 |
0,22 |
Não |
26.771 |
25,49 |
Não se aplica |
64.663 |
61,58 |
TOTAL |
105.005 |
100 |
Fonte: Autores, 2023. Segundo dados coletados do SINAN/DATASUS |
Na Tabela 2 são mostradas as características clínicas, a maioria dos agentes envolvidos foram os escorpiões (77.061; 73,39%) e abelhas (14.519; 13,83%) com a maioria dos acidentes ocorreram no pé 31.868 (30,35%) e na mão 16.906 (16,10%). Ainda na Tabela 2, observa-se que o atendimento ocorreu de maneira rápida, até uma hora (50.128; 47,74%) após o acidente, considerados leves (90.016; 85,73%), em 87.069 (82,92%) dos não ocorreu soroterapia, sendo a grande maioria apresentaram cura (96.107; 91,52%) do agravo notificado.
Tabela 2. Características clínicas dos Acidentes por Animais Peçonhentos no estado de Pernambuco (2018-2022) |
||
LOCAL DE PICADA |
N |
% |
Ignorado/Branco |
10.450 |
9,95 |
Cabeça |
8.605 |
8,19 |
Braço |
5.637 |
5,37 |
Antebraço |
2.075 |
1,98 |
Mão |
16.906 |
16,10 |
Dedo da mão |
9.822 |
9,35 |
Tronco |
4.606 |
4,39 |
Coxa |
2.537 |
2,42 |
Perna |
5.808 |
5,53 |
Pé |
31.868 |
30,35 |
Dedo do pé |
6.691 |
6,37 |
TEMPO ATÉ O ATENDIMENTO (EM HORAS) |
N |
% |
Ignorado/Branco |
17.196 |
16,38 |
0 – 1 |
50.128 |
47,74 |
1 – 3 |
22.483 |
21,41 |
3 – 6 |
5.777 |
5,50 |
6 – 12 |
2.665 |
2,54 |
12 – 24 |
2.843 |
2,71 |
>24 |
3.913 |
3,72 |
TIPO DE ACIDENTE |
N |
% |
Ignorado/Branco |
1.598 |
1,52 |
Serpente |
4.779 |
4,55 |
Aranha |
1.651 |
1,57 |
Escorpião |
77.061 |
73,39 |
Lagarta |
575 |
0,55 |
Abelha |
14.519 |
13,83 |
Outros |
4.822 |
4,59 |
SOROTERAPIA |
N |
% |
Ignorado/Branco |
15.549 |
14,81 |
Sim |
2.387 |
2,27 |
Não |
87.069 |
82,92 |
CLASSIFICAÇÃO FINAL |
N |
% |
Ignorado/Branco |
8.178 |
7,79 |
Leve |
90.016 |
85,73 |
Moderado |
6.135 |
5,84 |
Grave |
676 |
0,64 |
EVOLUÇÃO |
N |
% |
Ignorado/Branco |
8.827 |
8,41 |
Cura |
96.107 |
91,52 |
Óbito |
59 |
0,06 |
Óbito por outra causa |
12 |
0,01 |
TOTAL |
105.005 |
100 |
Fonte: Autores, 2023. Segundo dados coletados do SINAN/DATASUS |
Na estratificação dos casos por tipos de agentes, observa-se que na serpente foram as Bothrops (1.534; 1,47%), as aranhas foram as Loxoscele (155; 0,15%) e a Lonomia (94; 0,09%) destacou-se as lagartas. Contudo, observa-se que uma parcela significante foram notificados como ignorado/branco, chegando a mais de 90% das três variáveis apresentadas.
Tabela 3. Estratificação por tipo de serpente, aranha e lagarta dos Acidentes por Animais Peçonhentos no estado de Pernambuco (2018-2022) |
||
TIPO DE SERPENTE |
N |
% |
Ignorado/Branco |
101.816 |
96,96 |
Bothrops (Jararaca, Urutu) |
1.534 |
1,47 |
Crotalus (Cascavel) |
656 |
0,62 |
Micrurus (Cobra-coral verdadeira) |
134 |
0,13 |
Lachesis (Sururucu, Pico-de-jaca) |
13 |
0,01 |
Não peçonheta (Jibóia, Cobra-cipó) |
852 |
0,81 |
TIPO DE ARANHA |
N |
% |
Ignorado/Branco |
104.349 |
99,37 |
Phoneutria (Aranha-de-bananeira) |
122 |
0,12 |
Loxoscele (Aranha-marrom) |
155 |
0,15 |
Latrodectus (viúva-negra) |
71 |
0,07 |
Outras espécies |
308 |
0,29 |
TIPO DE LAGARTA |
N |
% |
Ignorado/Branco |
104.772 |
99,78 |
Lonomia |
94 |
0,09 |
Outra |
139 |
0,13 |
TOTAL |
105.005 |
100 |
Fonte: Autores, 2023. Segundo dados coletados do SINAN/DATASUS |
DISCUSSÃO
Ao analisar a situação das notificações dos AAP nos últimos cinco anos, observa-se uma variação entre os anos, com tendência de queda, esse achado contraia outros estudos presentes na literatura, que mostram um crescimento das notificações por esse agravo3,10-12,16-18. Assim como na realidade estudada, esse fato pode indicar falhas de notificação dos AAC no SINAN1,4,10,19. As subnotificações interferem nas ações de saúde, uma vez que, afeta na formulação de medidas para o seu controle, gerando um alto custo nos serviços de saúde20.
Quanto a sazonalidade, foi evidenciado uma maior prevalência de notificação no período de junho a setembro e de janeiro a fevereiro, período marcado pelo inverno e verão no estado de Pernambuco, respectivamente. A literatura aponta que nessas estações ocorrem a elevação da temperatura e dos índices pluviométricos, gerando um aumento das atividades agropecuárias, deixando os trabalhadores de campo mais susceptíveis aos AAC, e consequentemente elevação das notificações11. Outra característica importante é que a chuva e o calor faz com que os animais saiam à procura de alimento, abrigo e um locais para reprodução18.
O estudo evidenciou uma maior proporção de casos no sexo feminino, característica em descompasso com a maioria dos estudos presente na literatura, que mostra uma parcela significante nos homes1-4,6,11,18,21. Contudo, apesar de escassos, algumas pesquisas vão de encontro com o achado, e aponta uma maior predominância no sexo feminino1,5,12,17. Fatores como exposição igual entre os sexos, subnotificação entre os homens (pela falta de procurar aos serviços de saúde), maior procura das mulheres pelos serviços de saúde, acidentes domiciliares (aranhas e escorpiões), pode explicar a maior proporção entre as mulheres1-2. É necessário que essa característica seja mais estudada, uma vez que, essa dualidade limita a criação de ações para seu controle12.
Em relação a faixa etária, o presente estudo encontrou dados semelhantes a outras pesquisas, evidenciado uma maior parcela na faixa dos 20 aos 59 anos, somando mais da metade dos casos1,4,6,10-12,18,21. Por ser uma faixa etária que engloba os indivíduos economicamente ativo, mostra a importância dos AAP como um problema de saúde ligado ao trabalho11. Em um estudo realizado em municípios do sul do estado de Minas Gerais, região que apresenta grande quantidade laboral de agricultura familiar e/ou de subsistência, característica semelhante ao cenário do presente estudo, evidenciou que esse tipo de trabalho está ligado a baixa utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como a botas e luvas, deixando o trabalhador mais susceptível aos AAP21.
Também é observado uma acentuada prevalência em indivíduos menores de 15 anos, característica preocupante, uma vez que, AAP em pessoas nessa faixa etária pode levar a quadros clínicos mais graves, em comparação com os adultos22. A literatura cientifica aponta para uma maior parcela dos casos em indivíduos pardos2-3,12, esse achado pode estar ligado a miscigenação racial e o alto número de pessoas que se autodeclaram pardos ou pretos na sociedade, que são cerca de 55,8% da população, principalmente em estados que formam a região Nordeste23.
Assim como em outras pesquisas, é visto que os indivíduos com baixa escolaridade representam uma maior parcela dos casos2,10-12. Entende-se que a baixa escolaridade e um fator importante para a falta de conhecimento acerca dos métodos de prevenção dos AAP, principalmente na população adulta e economicamente ativa, relacionado ao uso do EPI12. Nessa mesma perspectiva, pesquisas apontam que a população mais pobre é mais propensa aos AAP22. Ainda assim, é observado que mais da metade dos casos foram notificados como ignorado/branco, o que pode dificultar a formulação de políticas e ações em saúde para seu controle20.
Ao analisar a variável acerca da gestação, é visto que a maioria foi de “não” ou “não se aplica”, podendo ser associada a mulheres não gravidas, homens e os extremos de idade. Contudo, ao avaliar os casos em gestantes, foi visto uma maior notificação em gestante no 2° trimestre, semelhante a dados de outra pesquisa10. A literatura cientifica sobre os efeitos e prevalência epidemiológica ainda é escassa, ainda assim, relatos clínicos evidenciam casos de abortamento, deslocamento de placenta, letalidade materna de 4,2% e taxa de mortalidade fetal entre 43-58% em gravidas que sofreram AAP, além do mais, a exposição da toxina ao feto pode levar a quadros de mutação e retardo do crescimento24.
Assim como em outros estudos, foi visto que o pé e a mão são as principais regiões de ocorrência dos AAP25-26. Há a possibilidade que essa caraterística esteja associada com o fato de calçar luvas e/ou calçados com presença de algum animal peçonhento, mais também a falta de EPI por parte dos trabalhadores1. Um estudo clínico evidenciou que os pacientes que tiveram os pés como origem dos AAP apresentaram uma maior chance de óbito pelo agravo, com seis das 24 mortes geradas pelo agravo, com uma taxa de mortalidade de 0,9% dos casos25.
Em conformidade com os estudos da literatura nacional, a maior parcela dos casos receberam assistência médica em até uma hora após do AAP1,8,11-12,21-22,25. É durante as três primeiras horas dos AAP que se inicia os sintomas, sendo ideal que a assistência médica seja realizado na primeira hora após11,21. Levando em conta a ação dos tipos de veneno produzido pelos animais peçonhentos no Brasil, o período do acidente até o atendimento é importante para uma boa recuperação do doente, posto que quando se identifica antecipadamente o agente causador o tratamento é iniciado de maneira rápida, reduzindo as chances de complicações21. Em um estudo realizado no Rio Grande do Norte, foi evidenciado que quanto maior o tempo de atendimento, maior é a taxa de letalidade dos AAP, chegando a 1,7% para aqueles atendido entre 3 e 6 horas após o acidente25.
Em relação ao tipo de acidente, foi visto que o principal agente envolvido foi o escorpião, como em outros pesquisas1-3,10-12,17,22. Esse achado pode ter relação com as características climáticas do estado, quentes e úmidas, que são propícia para o surgimento de escorpiões3. Ainda assim, em consequência das mudanças climáticas, o desequilíbrio ecológico, falta de saneamento e educação sanitária, leva a transmigração desses animais para os centros urbanos e nas residências, aumentando os riscos dos AAP relacionado ao escorpião3,22.
Os acidentes relacionados aos escorpiões frequentemente são subestimado pela população, realizando o tratamento de maneira caseira, através das ervas e infusão dos animais mortos em álcool, isso pode gerar a subnotificação dos casos e devido a demora de procurar o serviço de saúde, o agravamento da situação clínica18. Os AAP relacionado aos escorpiões possui um alto índice de mortalidade nos estremos das idades, principalmente nos maiores de 70 anos e menores de anos de idade2,22.
Também é observado uma acentuada prevalência relacionada as abelhas, que pode estar relacionado a atividade laboral (apicultores) e processo alérgicos27. Os casos em abelhas também pode estar ligada as mudanças climáticas, já que as abelhas possuem intensa percepção das mudanças climáticas, como o aumento de temperatura e destruição da vegetação nativa, gerando um stress nas abelhas, quando associado à proximidade com os humanos, resulta nos aumentos aos ataques devido a autodefesa17.
Quando analisada os AAP por tipo de serpente, é visto que o gênero Bothrops se mostrou em maior número, igualmente a outros estudos6,8-10,18. As serpentes do gênero Bothrops são encontrado espalhada pelo país, especialmente em estados da região nordeste, além disso, apresentam uma boa adaptação nas áreas urbanas e em regiões pertos de rios e córregos, facilitando o ataque aos humanos6,18. O veneno de serpentes desse gênero causa desde efeitos locais (edema, necrose) e sistêmicos (hemorragia, perturbação na coagulação), sendo considerado o veneno mais potente das serpentes presente no Brasil.
Em relação as aranhas, é visto que as mais envolvidas foi a do gênero Loxoscele, igual a outras pesquisas6,8-10,18. Esse tipo de aranha possui uma grande importância médica, uma vez que seu veneno, considerado o segundo mais tóxico entre as aranhas do mundo, é capaz de causa necrose, além de ser neurotóxico. Estudos demonstram que esse tipo de aranha apresenta extensa disseminação na região Nordeste, principalmente nos estados de Pernambuco e Paraíba, sendo encontradas em áreas de agricultura, urbanas relacionado ao desmatamento e em ambiente domiciliar28. Por esse ponto de vista, a sua presença tão próxima aos humanos na região estudada potencializa seus ataques28.
Em relação as aranhas, ainda é observado um acentuado percentual de casos notificados como “outras espécies”, essa característica pode ser resultante do fato de que muitas aranhas apresentam uma coloração semelhante, o que dificulta o real conhecimento por parto dos pacientes e seus acompanhantes18. A Lonomia é a fase de larva das mariposas, seu corpo é recoberto por cerdas com possui substâncias tóxicas, que causa dor intensam, urticaria e em casos mais graves atividade hemorrágicas29.
Essas larvas são encontradas com mais frequências em troncos de arvores silvestres (aroeira, cedro, ipê) e frutíferas (maça, goiaba), apresentando relação com atividades agrícolas e de jardinagem29. Outros tipos que também causam intoxicação são a Lagarta-aranha, Nogueira-do-mato, Tyria jacobaeae e a Thaumetopoea pityocampa, contudo não apresenta a mesma importância clínica da Lonomia. Observa-se que uma parcela significante das variáveis tipos de serpentes, aranhas e lagarta, foram notificados como ignorados/branco, alcançando um índice de mais de 90%. Essa característica se deve principalmente a dificuldade dos profissionais de saúde tem de identificar a espécie envolvida e os sinais clínicos característicos do seu veneno27.
A medicamentação própria para os casos de AAP, a soroterapia, foi administrada em uma parcela mínima dos casos, característica semelhante a outras pesquisas1,22. O alta prevalência de casos de origem de escorpião e leves pode ser uma possível explicação para esse fato, já que estudos2,7,9-10 apontam que os ataques escorpião estão ligados a casos leves, sendo a indicação para soroterapia apenas em casos moderados e graves. A dose necessária é preconizada para cada tipo e grau de gravidade de cada AAP, para auxiliar os profissionais de saúde no tratamento, a ficha de notificação dos casos já preconiza essas informações1. Contudo, é visto que em muitos hospitais essas normas não são preconizadas, e que em muitos casos ocorre prescrição do medicamento de maneira inapropriada26. Essa característica também pode estar associada ao alto número de casos ignorados/branco nas variáveis tipos de serpente, aranhas e larvas.
O presente estudo mostrou casos clinicamente leves, evoluindo majoritariamente para a cura, característica também presente em outras pesquisas acerca dos AAP1-2,4,10,12,17-18,27. Os serviços de saúde de Pernambuco segue as diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde para a assistência às vítimas de AAP. De acordo com essas normas, os pacientes com sinais clínicos locais são classificados como leves4. Nessa perspectiva, pode-se contatar que o rápido tempo até a assistência médica e uma abordagem adequada aos pacientes, sendo características importantes que leva a um melhor desfecho dos casos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise dos dados, foi capaz categorizar o perfil epidemiológico dos AAP entre os anos de 2018 a 2022 no estado de Pernambuco, mostrando maiores índice indivíduos do sexo feminino, pardos, de baixa escolaridade. Também é visto que a maioria dos casos apresenta vieses relacionado a atividade laboral dos pacientes. As variáveis clínicas mostrou que o atendimento médico está sendo realizado de maneira rápida e eficiente, que leva a um melhor prognóstico do paciente, contudo, a deficiência no processo de notificação limita a análise completa dos casos. A partir dos resultados alcançados, espera-se que a presente pesquisa sirva de instrumento para a elaboração de políticas públicas e estratégias de controle pelos serviços de saúde, além de esclarecer a população sobre os riscos iminentes em sua região.
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