Discutindo sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade na psiquiatria: do diagnóstico ao tratamento
Prof. Patrick Leonardo Nogueira da Silva, Profa. Fabrícia Josely Oliveira Barbosa, Gabriela Lorena Guimarães Freire, Maria Eduarda Queiroz Pereira, Tiago Gusmão Freitas, Sandra Paula Rodrigues Oliveira, Vinícius Jesus Silveira Mendes
O Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) ou Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA) constitui um assunto muito recente e ainda muito recorrente dentro do campo da psiquiatria tendo em vista a dificuldade em se realizar um diagnóstico precoce deste transtorno. No entanto, a ocorrência comum de hiperatividade nas crianças afetadas, sendo esta uma extensão física do déficit de atenção e impulsividade, levou-as a uma alteração da terminologia clínica para o que nós conhecemos hoje como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
O mesmo pode ser definido como uma dificuldade em concentrar-se, podendo ou não estar associado ao excesso de atividade e impulsividade tidas como impróprias para a idade da criança o qual podem repercutir negativamente no desempenho ou no desenvolvimento. O TDAH é um distúrbio cerebral que pode ter a sua origem desde o período embrionário ou manifestar-se logo após o nascimento. Algumas crianças podem desenvolver dificuldade em adquirir atenção e concentra-se por um tempo prolongado, bem como a capacidade de concluir tarefas. As crianças portadoras do TDAH podem ter problemas de auto-estima, depressão, ansiedade ou oposição à autoridade pela época em que alcançam a adolescência.
Algumas crianças podem ser hiperativas e impulsivas e outras podem desenvolver ambos os problemas. Embora crianças com TDAH geralmente apresentem comportamento hiperativo e impulsivo, o TDAH não é um distúrbio de comportamento, mas sim do neurodesenvolvimento. Muitos dos sinais e sintomas característicos do TDAH podem ser notados antes dos quatro anos de idade e, invariavelmente, antes dos 12 anos de idade, de modo que estes sinais e sintomas clássicos podem não interferir significativamente no rendimento acadêmico e social até os anos escolares intermediários.
Existem três tipos de TDAH: (1) Desatento; (2) Hiperativo/impulsivo; e (3) Combinado. A sintomatologia do TDAH varia de leve a grave, podendo exacerbar-se tornando um problema em determinados momentos, como em casa ou na escola. As restrições escolares e a rotina organizada tornam o TDAH um problema. Em gerações remotas, os sintomas podem não ter tido uma interferência significativa no desempenho infantil porque as pessoas apresentavam um ponto de vista diferente quanto à normalidade do comportamento infantil. Embora parte da clínica sintomática do TDAH possa ser encontrada em crianças neurotípicas (não apresentam um distúrbio de ordem mental), eles se tornam mais freqüentes e graves nas crianças com o déficit.
Em muitos dos casos de TDAH, o diagnóstico pode demorar e passar despercebido durante toda a infância, adolescência e até mesmo na fase adulta do indivíduo. As manifestações neurológicas do TDAH perduram por toda a idade adulta e cerca de metade das pessoas continuam a ter sintomas comportamentais na idade adulta. Sendo assim, os sintomas em adultos incluem: (1) dificuldade de concentração; (2) dificuldade para completar tarefas (habilidades executivas ruins); (3) inquietação; (4) oscilações do humor; (5) impaciência; e (6) dificuldade em manter relacionamentos.
A sintomatologia pode assemelhar-se a outros transtornos mentais, tais como transtornos do humor, transtorno de ansiedade generalizada, dentre outros, podendo ser ainda mais difícil para diagnosticar o TDAH na idade adulta. Etilistas, tabagistas e consumidores de drogas ilícitas podem apresentar sintomas semelhantes. Os adultos com TDAH podem fazer uso dos mesmos psicofármacos estimulantes que as crianças. A psicoterapia será fundamental no desenvolvimento de técnicas que o ajude a lidar com os problemas, bem como a melhorar a administração do seu próprio tempo.
Este transtorno apresenta causas multifatoriais, sendo a principal delas os fatores genéticos (hereditários) os quais estão com frequência presentes. Algumas pesquisas correlacionam a probabilidade do desenvolvimento do TDAH com a presença de anomalias dos neurotransmissores, sendo estas substâncias transmissoras de impulsos elétricos ao cérebro. Alguns fatores de risco podem incluir: (1) baixo peso ao nascimento (abaixo de 1.500 g); (2) traumatismo craniano; (3) infecção cerebral; (4) anemia ferropriva (deficiência de ferro); (5) apneia obstrutiva do sono; e (6) saturnismo (exposição e contaminação por chumbo), assim como etilismo, tabagismo e consumo de drogas ilícitas antes do nascimento.
Não existem exames laboratoriais para o diagnóstico do TDAH, sendo o mesmo puramente clínico. A realização de um exame físico e, às vezes, a solicitação de algum exame bioquímico ou de imagem, consiste em avaliar e descartar outros distúrbios de causa orgânica. O diagnóstico de TDAH se baseia no número, frequência e gravidade dos sinais. As crianças devem apresentar, pelo menos, seis ou mais sinais de desatenção ou de hiperatividade e impulsividade, de modo que os sinais devem estar presentes em, pelo menos, dois ambientes distintos e separados. Questionários sobre diferentes aspectos do comportamento e desenvolvimento podem ajudar os médicos e psicólogos a estabelecer um diagnóstico.
O TDAH não dispõe de uma cura, porém dispõe de tratamento, sendo este de cunho sintomático e comportamental. A terapêutica é embasada na prescrição de medicamentos psicoestimulantes, sendo o mais freqüentemente prescrito o Metilfenidato (conhecido por Ritalina, sendo este seu nome comercial), bem como na modificação do comportamento, facilitando, assim, a inclusão destas crianças na escola e em outras atividades. A terapia combinada é especialmente benéfica para crianças mais novas. Já nas crianças em idade pré-escolar, a terapia comportamental pode ser suficiente. Os efeitos colaterais dos medicamentos psicoestimulantes podem incluir: (1) distúrbios do sono (tais como insônia); (2) supressão do apetite; (3) depressão, tristeza ou ansiedade; (4) cefaléia (dores de cabeça); (5) dispepsia funcional (dor de estômago); (6) taquicardia (aumento da frequência cardíaca) e hipertensão arterial (aumento da pressão arterial).
A maioria das crianças não apresenta efeitos colaterais, exceto talvez redução do apetite. Todos os efeitos colaterais desaparecem quando o medicamento é interrompido. Contudo, em altas dosagens por muito tempo, os estimulantes ocasionalmente retardam o crescimento infantil. Por isso, monitora-se a antropometria. Outras classes de fármacos podem ser usadas durante o tratamento. São eles: (1) atomoxetina (um medicamento não estimulante do sistema nervoso para TDAH); (2) alguns anti-hipertensivos (como a clonidina e guanfacina); (3) antidepressivos; e (4) ansiolíticos. Esporadicamente, a combinação de medicamentos faz-se necessária.
Portanto, para melhorar a qualidade de vida do portador de TDAH, é geralmente necessária a criação de novas rotinas, tanto dentro quanto fora de casa, bem como na escola, estruturas bem adaptadas aos portadores deste transtorno, um plano de intervenção na escola e acompanhamento e capacitação dos próprios pais quanto a modificação das técnicas de educação.
Fonte: Prof. Patrick Leonardo Nogueira da Silva (Mestrando pelo PPGCPS/UNIMONTES); Profa. Fabrícia Josely Oliveira Barbosa (Mestre pelo PPGGSS/UFMG); Gabriela Lorena Guimarães Freire, Maria Eduarda Queiroz Pereira, Tiago Gusmão Freitas, Sandra Paula Rodrigues Oliveira, Vinícius Jesus Silveira Mendes (Acadêmicos de Medicina pela FUNORTE).
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